Velha ? eu ? autoretrato de uma feminista

tania navarro swain

Meus cabelos são compridos e brancos, crime de lesa majestade para uma mulher no Brasil. Visto-me como bem me apetece, para escândalo das/ os colegas e para alegria de meus alunos, que partilham minhas preferências. Nunca torturei meus pés nestes sapatos pontudos e de salto alto (elegantes!) que nos impedem de correr, saltar, ter uma postura correta.  Sinto-me bem e confortável nos meus running shoes que me transportam entre conferências e palestras, das bancas de tese às aulas habituais. Tenho 57 anos e as pessoas , até agora, costumam exclamar: “tudo isso?” Vejo neste espanto uma reação de incredulidade face à obscena  ( Dao, 2003) exposição desta tara: uma “ certa” idade.

Navego muitas vezes contra a correnteza ( e isto desenvolve os músculos – intelectuais?). Com esta imagem eu me construo um sujeito feminista que não agrada a tod@s ( longe disto!) mas que avança como um peão do Go, descrito por Deleuze [1] (1997:13-15), para além dos espaços estriados, fora dos trilhos que restringem o espalhar das sendas. Enquanto sujeito feminista aspiro à transumância, à mudança, à destruição das evidencias, que nos confinam aos papeis de gênero, às definições sexuadas, à um corpo pré-estabelecido para minha “ feminitude”.

Recuso-me, de fato, a compor o binário entre “mim e o outro”, eu não sou outro de um sujeito definido como norma , nem tampouco “o outro do outrem”. O olhar que me roça para melhor definir meus contornos, estabelecer para mim um lugar na taxionomia do social, não me provoca senão um riso de mofa.  Seria eu a  a outra de mim mesma.? Minha imagem no espelho é a de uma estrangeira, renovada cada dia, aqui uma dobra, ali uma ruga, uma expressão nos olhos, esta tristeza que se acumula na experiência, a neve que , cada vez mais, possui meus cabelos.

A idade cronológica avança inexoravelmente para tod@s. Apenas os mortos não envelhecem. Mas o que faz de um ser humano uma pessoa jovem ou velha?Seria o corpo que fenece? seria a memória que escapa, a pele que perde o viço, a carne , cuja firmeza se vai aos poucos? O corpo, é verdade, se estiola; mas a velhice, esta é apenas uma categoria social, criada para melhor separar o humano em hierarquias e impor modelos de consumo e de vida. Aqueles que respondem às necessidades de mercado, ao patriarcado, ao desejo de poder, esta tormenta que assola as relações humanas.

Estas questões se colocam apenas em uma perspectiva binária do mundo: o corpo não é velho senão em relação a um referente, que, hoje, se chama “ juventude” , um valor entre outros, suscetível de mudança, segundo os espaços e as culturas. Valores instituídos sobre os corpos, sua textura, suas cavidades e protuberâncias, seus orifícios, seus limites, valores que os tornam inteligíveis enquanto mulheres, fêmeas capazes de despertar os fantasmas sexuais, de posse, de prazer e ,  sobretudo, do poder masculino.

O que é esta juventude, tão rápida, tão fugaz, tão fluida, cujas margens se alongam ou se retraem, segundo as condições de imaginação, de enunciação, das representações sociais do mundo, dos corpos, do humano? Em certas regiões do Brasil, meu país, uma criança de 12 anos é uma mulher pronta para o casamento; aos 25 é uma “ velha”, enrugada, desfeita pelos partos e/ ou abortos sucessivos ( ilegais, clandestinos, mas que se contam por milhões), dobrada pelo peso dos dias, ainda tão poucos, de sua vida.

Mas o que é afinal a velhice? Vemos florescer, mesmo nas fileiras dos feminismos, os “ grupos de jovens”, face às feministas “ clássicas”, tradicionais, “ idosas”, velhas, enfim. O que faz a coerência dos grupos de “ jovens”? Quais são seus limites, seus objetivos, seus laços? Como a idade pode determinar o pertencimento, senão em um mundo traçado, estabelecido, definido, onde os gostos e preferências se estabelecem segundo a publicidade, a propaganda, avatar último de uma globalização avassaladora em marcha? E quais são os detalhes sutis que colocam alguém, inexoravelmente entre as “velhas”,? A terceira idade começa aos 30 ou 31 ou 42 ou 54? E a 4ª idade e a 5ª ? Qual é a ruga ou a quantidade de cabelos brancos que determinam esta passagem?       

A “juventude” significa  comportamentos especiais, preferências particulares, tendências especificas? O que constitui este grupo de “ eleit@s” , cujo reino é tão rapidamente corroído pelo tempo-que-passa?E a “velhice” , o que significa? Em que momento passamos de um lado para outro? Seria a idade ou a aparência? “ Velhice” , “juventude” , mais uma vez  a linguagem nos molda em palavras generalizantes, que fingem ter um sentidos único, lá onde há apenas dispersão. Mais uma identidade ilusória que define o humano para melhor hierarquizá-lo, cindi-los, criando separações e exclusões. É assim tão difícil  perceber as linhas de poder que sustentam as oposições binárias? Na formação de grupos , cujos limites criam as margens e os marginais?

A idade é com certeza um definidor de gêneros, mas além do feminino  / masculino, dentre as mulheres, as feministas  e os grupos ditos “ minoritários” é também um divisor de águas.

Aprecio a noção de serialidade como força positiva de ação política feminista, tal como explicita Íris Young (1996:168), para além de uma suposta coerência de “grupos”, que criam a ilusão de uma essência comum a fim de permitir sua coesão ( as ditas “ minorias visíveis”, classificadas segundo a cor da pele, a altura, a força, o peso, a idade, etc):

 “ I propose that we understand gender as referring to a social series, a specific kind of social collectivity[...]Understanding  gender as seriality, I suggest, has several virtues It provides a way of thinking about women as a social collective, without requiting that all women have common attributes or a common situation. Gender as a seriality, moreover, does not rely on identity or self-identity for understanding the social production and meaning of membership in collectives.”

Os grupos, nesta perspective, formam-se por “ precipitação” ( no sentido químico do termo), isto é, pela necessidade política de intervenção sobre o social, pelo desejo de transformação, pelo gosto do movimento, da transumância, pelos sulcos estratégicos sobre os espaços lisos, que não marcam senão provisoriamente a direção dos passos.

 Em meu entender, nisto se encontra a coesão dos grupos e não nos detalhes corporais, definidos previamente pelos valores instituídos pelo social. Assim, para as mulheres, os valores são beleza ( segundo rígidos padrões ), a juventude, a magreza, a capacidade de sedução, normas que constroem os corpos femininos em um quadro de poder  e inteligibilidade binária. Neste caso, fica clara a análise proposta por Judith Butler (1990:7) que o gênero ( ou seja, os valores, as representações, as imagens atuantes em um tempo/espaço definidos na diferenciação dos sexos) cria os corpos e o sexo, ao moldá-los.

Mas como forjar o novo, em um mundo construído pelos paradigmas, por certezas e verdades? Os imaginários feministas, para Rosi Braidotti ( refere-se aqui a Luce Irigaray e Donna Haraway):

«  are committed to the radical task of subverting conventional views and representations of human and especially of female subjectivity. The both rely on alternative figurations as a way out of the schemes of thought. Feminist figurations such as these are evidence of the many, heterogeneous ways in which feminists today are exploring different forms of the subjectivity of women and of their struggle with language in order to produce affirmative representations […] (Braidotti, 1994:3)

Neste sentido, encontramo-nos além dos corpos instituídos, delimitados pelo traço invisível dos valores sociais, em pleno domínio da criatividade, mesmo se nossa experiência-como-mulher-no-mundo nos determina um ponto de ancoragem[2]

A polarização de grupos divididos em “ juventude” versus “ velhice” , retoma, de fato, a naturalização dos corpos, remetendo ao biológico, à evolução, aos corpos como superfície pré-discursiva. Vemos, assim, em ação, as categorias sociais que criam os corpos em bases identitárias, articuladas pelo gênero E pela idade, pois os valores são diferenciados para a instituição dos corpos-em-mulheres e dos corpos-em-homens.

Nas fileiras dos feminismos, a oposição anódina entre “jovens” e “velhas” retoma o biológico como vetor  valorativo de cisão, escondendo os valores que a sustentam. “Estilos de carne”, como sublinha Judith Butler (1990) , generizados e articulados pelo eixo idade. Dividir, para melhor controlar? A quem interessa esta cisão? Quem controla, que poder é este que se articula sobre corpos dotados de sentidos, criando outros sentidos, um corpo que existe segundo os graus de valor estabelecidos pelo olhar masculino, em um mundo patriarcal?

Devemos nós sofrer novas hierarquizações que enfraquecem nossas ações, nossas “ precipitações “ políticas? Aprecio sobremaneira o modo como as feministas do Québec  falam  das “ jovens”: consideram-nas como as sucessoras. Aquelas que estarão à frente das transformações do social e que hoje,  formam as serialidades conosco ( as mais “velhas”), em uma troca de forças, objetivos, experiências.

A “juventude”, de fato, se define, para as mulheres, em relação à desirabilidade de seus corpos. E o medo de envelhecer se engendra pelo medo de não mais agradar, de não mais ser desejada, olhada. ( no Brasil, as mulheres de mais de 40 anos tornam-se, em grande parte, ruivas! como suportar o peso dos cabelos brancos, de um envelhecimento anunciado?)

O assujeitamento às imagens do corpo, assim, não é unicamente uma força externa que se exerce sobre os sujeitos , dando-lhes sentido e existência, mas uma autorepresentação constitutiva do corpo-em-mulher, idealizado. Como não criticar, nos feminismos, a divisão entre jovens e velhas, cisão que responde, afinal, às injunções androcêntricas de um sistema binário de compreensão do mundo? De valores que definem, antes de tudo, as mulheres na medida de seus corpos?

Menopausa- mais uma armadilha

No escaninho da “ velhice”, a queda da auto estima é proporcional à ênfase  dada pelos discursos sociais @s jovens, à “juventude”, como sinônimos de felicidade, sucesso, prazer, inclusão.Quem não fica encantado pela beleza dos corpos que aproveitam e cantam a vida, tomando coca-cola?

Neste sentido, a menopausa é, para as mulheres, um rito de passagem, mas uma passagem para o reino das sombras, pois ao perder a fecundidade, base da feminilidade, o corpo-em-mulher se torna “ inútil”; a sexualidade sofre um deslocamento, entre liberação, culpabilidade, rejeição. ( Outro assunto a desenvolver...)

Em certos discursos médicos, de grande peso, que transitaram ente os séculos XIX e XX, as mulheres na menopausa foram consideradas como “castradas’, “doentes”, presas à

«  ´ dyspepsia, ...rheumatic pains, paralysis, apoplexy... hemorrhaging... tuberculosis… and diabetes, ´ while emotionally the aging female risked becoming irritable, depressed, hysterical, melancholic, or even insane » .(Anne Fausto-Sterling, 1999 :169-171) 

Nestas formulações médicas e midiáticas, portanto, as transformações do corpo feminino aparecem como crise ou doença. É uma nova forma de apropriação dos corpos das mulheres, uma nova medicalização, que lhes designam um lugar fora do normal, aquele marcado do selo da “ verdadeira mulher”: não basta ser jovem, bela e sedutora, é preciso ser fértil, esta é sua essência., sua razão de ser no mundo. O que se tornam, então,  as mulheres na menopausa?

A menopausa é, também, uma categoria social e neste sentido, é uma re- criação do corpo doente, ( todas histéricas!) , por definição feminino. Para as “ jovens”, esta re-apropriação é realizada pelos discursos sobre a TPM ( tensão pré-menstrual) que reduz os seres humanos- mulheres  a seus hormônios.( nada de novo sob o sol!)

É ainda e sempre o “ dispositivo da sexualidade” em ação, descrito por Foucault (1976:141) que[...] a pour raison d´être non de se reproduire, mais de proliférer, d´innover, d´annexer, d´inventer, de pénétrer les corps de façon de plus en plus détaillée et de contrôler les populations de manière de plus en plus globale »

É, portanto, este «  dispositivo » que cria uma bolsa de valores sociais, cujo índice se mede pela idade e pela beleza. Com efeito, é sobre estes corpos, construídos segundo certos modelos, que se instituem as normas, as partilhas, a grande ameaça do envelhecimento excludente, de um corpo que aos poucos vê seu valor social decrescer.

Desta forma, a menopausa [3] significa ainda um discurso generalizado sobre as mulheres e seus corpos, afligidos por calores, vaginas secas, sono interrompido. O tratamento destes “sintomas” é , não somente o confisco e a re-construção dos corpos-em-mulheres –  para melhor desvalorizá-los – mas igualmente uma questão de vultosas somas de dinheiro, pois a indústria farmacêutica/ cosmética aufere imensos benefícios com a venda de produtos anti- menopausa, anti-velhice, anti-rugas, anti-celulite, produtos viva-a-juventude!

Entretanto, como analisa Anne Fausto-Sterling, bióloga, os resultados das pesquisas neste campo são enviesadas pela escolha do universo estudado, ou seja, as mulheres que se queixam destes “ sintomas”; assim, conseguem generalizar suas conclusões para todas as mulheres. Aumentando seu campo de observação, as pesquisas feministas ( como por exemplo as de Madeleine Goodman ou Karen Fry), por sua vez, chegam a resultados inteiramente diferentes: 75% das mulheres na menopausa não se queixavam destes males, por um lado e por outro, 16% das mulheres em plena fecundidade os apresentavam todas.( Anne Fausto-Sterling, 1999 :173)

Vemos, assim que a menopausa é um processo que varia segundo a pessoa e o desconforto, que talvez surja,  e não é uma generalidade.Ainda segundo esta autora, os discursos médicos que pregam os tratamentos hormonais partem da representação social da “ verdadeira mulher”, para estabelecer seus pressupostos: assim, é o nível do estrogênio, hormônio ligado às características ditas “femininas” que é priorizado para orientar o “ tratamento”, apesar dos riscos conhecidos de seu uso regular, ligado ao aparecimento do câncer. Com efeito, como sublinha Anne Fausto-Sterling, os hormônios compõem um quadro sistêmico e esta complexidade é esquecida em favor , unicamente, do nível de estrogênio, o hormônio da feminilidade (172)

Vemos assim os pressupostos representacionais e binários do mundo orientar a vida, as pesquisas, os resultados “ científicos”, “objetivos” , as noções de doença/ saúde, de juventude/ velhice, de verdadeira mulher, bela, sedutora, capaz de engendrar novos pequenos machos e as velhas viragos infecundas, feiticeira assustadoras de uma outra era – a cronológica?

A velhice, tanto quanto a juventude, é uma categoria social que cristalizam sobre os corpos em transformação contínua, valores e significações com uma importância decisiva sobre seu lugar nas relações humanas.

Porém, diz o senso comum, pode-se estar envelhecendo, mas guardando uma juventude de espírito! E assim, estamos de novo no  grupo vencedor, aquele que dirige o mundo, que usufrui da vida, que ri e ama, já que o jovem é belo, portanto desejável, com uma alta cotação no mercado das sensações.

O referente é sempre estabelecido como modelo: é a juventude o mais importante, é uma imagem de mim no passado, um eu que passou, mas que conserva as cores e o brilho de uma memória, aquela que, entretanto, escolhe os nichos a serem valorizados, que cinzela as imagens fictícias do que eu gostaria de ser sempre: ser aceita, valorizada, amada, sedutora, cotação sempre em alta nos valores de um corpo-em-mulher. O medo da morte? Este destino inexorável  flana à nossa volta e aque@ que serão ceifad@ não estão necessariamente marcad@s por uma idade cronológica avançada. Entretanto, a ênfase na “juventude”, de alguma forma afasta o gume desta foice, ao menos no campo da ficção, que é nossa realidade.

Não, eu gosto de minha “velhice” de espírito, minha “ velhice“ de corpo, forjadas durante os anos que se foram e dos quais não tenho saudade. Quando se fala de “ política de localização”, não se trata somente de um lugar social estratégico ocupado, de uma experiência dada, mas igualmente de um lugar cronológico, histórico, minha história, da qual não me resta senão o presente. É ele meu referente de mim e o próprio presente é um lugar de passagem. Eu quero ser o peão do Go, guiado por escolhas estratégica, sem que me definam nem por minha imagem, nem por um lugar determinado: assim poderei emergir lá onde não sou esperada, em eterna subversão, pois o que me interessa é a explosão das constelações de sentido que aprisionam e constroem os corpos em filas, em andares, em sulcos pré-definidos.

Velha? eu?  ainda estou rindo.

referências

    Butler, Judith.1990 Gender Trouble, Feminism and the Subversion of Identity, New.York, London, RoutledgeDeleuze, Gilles. (1997) Mil Platôs : Capitalismo  e Esquizofrenia., vol.5, Rio de Janeiro, Editora 34.1ª edição

Fausto-Sterling, Anne (1999) Menopause: the storm before th calm, in Janet Price and Margrit Shildrick (ed) Feminist theory and the body, a reader, New York, Routledge.

Braidotti, Rosi (1994) Nomadics subjects, embodiment and sexual differences in contemporary feminist theory, Columbia University Press, New York.

De Lauretis, Teresa.. 1984. Alice Ddoesn´t, Feminism , Semiotics, Cinema, Bloomington, Indiana University Press

Foucault, Michel, (1976) l´Histoire de la sexualité,  la volonté de savoir, Paris, Gallimard, vol. 1

Irigaray, Luce. 1977. Ce sexe qui n´en est pas un, Paris, Les Editions de Minuit.  

Young, Íris (1996).Gender as Seriality Thinking about Women as a Social Collective, in Ruth-Ellen B. Joeres and Barbara Lasllet (editors) The Second Signs reader, Feminist Scholarship 1983-1996, University of Chicago

dados biográficos

tania navarro swain é professora do Departamento de História da Universidade de Brasília, doutora pela Université de Paris III,Sorbonne. Fez seu pós-doutorado na Universidade de Montréal, onde lecionou durante um semestre  na Université du Québec à Montréal, (UQAM); foi ainda, nesta últma universidade, professora associada ao IREF, Institut de Rechereches et d´Études Féministes. Ministra um curso de Estudos Feministas na graduação e trabalha na área de concentração com a mesma denominação na pós-graduação. Publicou  pela Brasiliense, “O que é o lesbianismo”, 2000 e organizou um número especial “ Feminismos: teorias e perspectivas” da revista Textos de História, lançado em 2002. Organizou igualmente um livro “ História no Plural”,  além de vários artigos em revistas nacionais e internacionais (Canadá, EEUU e França). Criou e organizou a revista Labrys, Estudos Feministas, com o seu Grupo de Estudos Feministas- GEFEM.



[1] [1] Deleuze compara o jogo de xadrez ao jogo do Go : o primeiro seria um jogo de Estado, codificado, cujas peças são dotadas de uma natureza interna e de um poder relativo.  Suas ações criariam um sujeito de enunciação, @ jogadora/r de xadrez. É um jogo arborescente. Ao contrário, as peças do Go não são subjetivados, definidos, não tem propriedades intrínsecas e seu poder deriva de sua situação estratégica. Se no xadrez as peças se distribuem em um espaço definido , para as peças do Go o espaço é aberto e trata-se de ocupá-lo , guardando a possibilidade de aparecer em toda parte; o movimento, neste jogo, não vai de um ponto a outro, ele se torna perpétuo, sem finalidade ou destino, sem partida ou chegada.. O Go seria um jogo rizomático. O espaço do Go é, assim, um espaço liso, contra o espaço estriado do xadrez.

[2] ver a este respeito a noção de mimesis em Luce Irigaray e de experiencia em Teresa de Lauretis, Alice Dosen´t

[3] Menopausa, segundo o sentido adotado a partir do  First International Congress ont the Menopause, em 1976, realizado do sul da França, indicaria o fim da menstruação que acontece no período do climatério. Este último seria  a fase do processo de envelhecimento das mulheres que marca a transição entre o período reprodutivo e não reprodutivo..  (Fausto SAterling, 1999:171)