Niède Guidon, arqueóloga : uma aventura no tempo. tania navarro swain
Resumo: Como resumir um encontro com Niède Guidon? Aventura, descoberta, lugares espetaculares, pinturas ruprestres magnificas e esta personalidade um pouco misteriossa, algumas vezes sorridente, sempre acolhedora. É ela a cientista que descobriu os sítios arqueológicos únicos no mundo, um verdadeiro museu ao ar livre e sacudiu as teorias da chegada humana na América do Sul, hoje datada de 100.000 anos. (D.N.= depois de Niède) Palavras-chave: pinturas ruprestres, arqueologia, Niède Guidon. Comment résumer une rencontre avec Niède Guidon? Aventure, découverte, des lieux enchanteurs, des pintures magnifiques et cette personalité un peu mystérieuse, quelque fois souriante, toujous accueillante. C´est elle la scientifique qui a découvert de sites archéologiques uniques au monde, un vrai et immense musée à l´air libre et a bouleversé les théories de l´arrivée humaine en Amérique du Sud, aujourd´hui datée de 100.000 ans. (A.N= Mots-clés: archéologie, pintures ruprestres, Niède Guidon. « Atenção, gongo Atenção, gongo » « Estão na escuta ? Sou eu chamando » » « Eu » é Niède Guidon, franco-brasileira cujo nome é sinônimo da arqueologia no Brasil. Indicada para o Premio Nobel, recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico do governo brasileiro e foi nomeada Chevalier de l´Ordre National du Mérite pelo governo Francês além de muitas outras homenagens e prêmios. https://www.labrys.net.br/labrys20/aventura/images/niedesourire.gif Foi professora na École dês Hautes Etudes, Boulevard Raspail, lecionando arqueologia americana; trabalhou no Musée de l´Homme com Anette Empéraire e dirigiu a Missão Francesa para o estudo dos sítios da Serra da Capivara, que, desde 1973 se desloca ao Brasil todos os anos durante três meses para dar continuidade às escavações. Há 40 anos Niède Guidon realiza escavações no Brasil, em São Raimundo Nonato, no Piauí, cujo resultado é a constituição do maior museu da pré-história ao ar livre (130.000 hectares), o Parque Serra da Capivara. Mais de 1 200 sítios foram descobertos e catalogados, 700 dentre eles abrigam milhares de pinturas, algumas antigas de 30 000 anos. Instrumentos líticos, cerâmica, fogueiras, sepulturas, são vestígios que às vezes atingem 100 mil anos! Este material vem sacudir as antigas teorias de ocupação humana na América, estimada anteriormente há 10 mil anos apenas. E ao lado, está o Parque da Serra da Confusão (com 890.000 ha.), zona de preservação – é o que dizem - do ecossistema da “catinga”, sistema único no mundo, cuja riqueza arqueológica foi apenas tocada. Nesta região, comenta-se, há um grupo de índios não aculturados, que se esconde na floresta. Niède Guidon. Vontade de aço, corpo agora enfraquecido, resiste à ignorância que ameaça este imenso tesouro da história da humanidade. Possui uma infinita doçura apenas percebida sob uma espessa carapaça, necessária para resistir aos assaltos da corrupção dos políticos, dos fanáticos de deus, da incompetência, da indolência ambiente, das incursões dos caçadores e dos camponeses contra a flora e a fauna dos Parques. Voz grave e pausada fulmina um jornalista mal informado:” você sabe ler, Espero? Então documente-se, antes de escrever insanidades!” Olhos brilhando de malícia comenta com humor os meandros burocráticos do governo, profundezas abissais onde o dinheiro a ser investido no Parque desaparece. Não é por nada que o Brasil foi motivo de riso e espanto em todo o mundo, com seu ministério da desburocratização! E com a corrupçãoç hoje desvelada, que se estende como uma teia maléfica por todo o país É só rindo mesmo.... Mas ela está cansada. Um trabalho desmesurado durante 40 anos e a todo momento tudo pode desmoronar, por falta de visão de futuro: o Parque Serra da Capivara não tem um orçamento anual. Cada ano coloca-se a questão de sua manutenção. Mas Niède nunca deixou seus funcionários sem salário: « vendi meu apartamento em Paris quando vim morar aqui e utilizei meu próprio dinheiro cada vez que a Fundação ficou sem fundos”, diz ela. Houve ocasiões em que outros pesquisadores/as emprestaram dinheiro para evitar atrasos de pagamento. Niède Guidon foi aos Estados Unidos buscar financiamento junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para organizar a estrutura do Parque, que hoje é impecável. Tantos anos de trabalho, tão pouco apoio dos poderes centrados nos interesses dos lobbies, sem nenhuma preocupação quanto aos verdadeiros projetos de desenvolvimento, como por exemplo, o da Serra da Capivara. Segundo estudos realizados já em 1994, poder-se-ia esperar 5 milhões de turistas/ ano se um polo turístico fosse instalado na região do Parque. E isto seria o motor de desenvolvimento de um dos Estados para miseráveis do Brasil. O aeroporto que faria a ligação de São Raimundo Nonato ( que fica a 500km de Teresina, a capital do Estado) com o resto do país levou mais de dez anos para ser construído, o dinheiro desaparecendo, os custos aumentando artificialmente para suprir a ganancia dos políticos. A Niède Guidon não falta idéias: um parque temático para vivenciar a pré-história, hotéis que se encaixem nos paredões para não poluir a paisagem, magnífica. Os capitais estrangeiros se atropelam para investir em seus projetos. O que os impede ? Aquele aeroporto, que terminado, não tinha pista de comprimento compatível para o pouso de grandes aviões. Mas ela não abandona a luta, apesar das noites de insônia, das preocupações que se acumulam, da solidão de seu posto. Ativa até a raiz dos cabelos, não pára: administra, controla, organiza, verifica, roda pelos caminhos do Parque para se assegurar que tudo está correndo bem. Durante duas horas passadas com ela houve ao menos dez telefonemas, três ou quatro pessoas que vieram consultá-la por questões administrativas, pesquisadores que se apresentaram para ter suas diretivas, tudo se centraliza, de fato, em Niède. Bem que ela gostaria de delegar poderes, mas algumas experiências mal sucedidas deixaram-na receosa. Em uma grande sala com paredes de vidro, ela trabalha sem parar, três telefones que tocam, o computador, uma impressora, uma máquina de café, um distribuidor de água, assim é seu local de trabalho. O aparelho de som permanece mudo, não há tempo para escutar as óperas e as músicas líricas que lhe dão tanto prazer. Quatro cachorrinhos, gatos, um deles selvagem, salvo da matança da caça que aniquilou sua mãe, pássaros, uma horta, um grande jardim. É sua casa, onde labuta todos os dias, onde vive, em São Raimundo Nonato., a cidadezinha próxima ao Parque. Na entrada de sua residência, uma faixa : « Lasciati ogni speranza voi que entrate ». “Que significa, aqui, esta frase do Inferno de Dante?” pergunto. Ela tem um pequeno sorriso... e não diz nada. Temos que nos arranjar com os significados, revirando-os em todos sentidos.
É uma guerreira. A aventura lhe sorri, mas cria uma infinidade de desafios. Entre a violência dos ricos, a ignorância rústica dos pobres e a indiferença dos poderosos, ela luta sozinha para criar e preservar a maior e mais antiga coleção de pinturas rupestres do mundo, no Estado do Piauí, Brasil. Sua voz vacila, seus olhos ficam marejados quando fala dos caçadores que não cessam suas práticas nefastas e maldosas. Apesar disto e justamente por causa de sua força e vontade, a fauna se reconstitui aos poucos no Parque e vemos hoje raposinhas que nos fixam na beira do caminho, veados que saltam, tatus que se escondem, serpentes, sagüis, mocós, e muitos outros animais típicos da catinga, se o dia é de sorte. O Piauí é um pouco o Faroeste americano. E esta mulher determinada e com pulso de ferro, caráter de fogo, resiste às ameaças, aos incêndios da catinga ( ela é uma das primeiras para apagar o fogo, contam os habitantes locais), às balas perdidas que destroem as pinturas de 50 mil anos. Teve que se preparar contra a invasão de sua casa pelos fanáticos religiosos com coquetéis Molotov, ( diziam que ela era ‘contra deus”) desafiar os poderosos fazendeiros que maquinavam sua morte e trabalhar, trabalhar, todos os dias, desde as 5h da manhã, até o esgotamento. Ela está cansada. Mas “por tão pouco”, não deixará seu trabalho, sua vigília diária. Diálogo: tania navarro swain. «A arqueologia é uma aventura, Niède ? » NG.« Sim, há o lado da aventura física, à qual estou habituada desde a infância, andar, subir em árvores, gastar energias. No início, das escavações no Piauí andávamos até 60 km para chegar aos sítios , carregando as vezes 40 kg de material. Dormíamos ao relento, em redes, a comida acabava, ficávamos sem comer dois ou três dias antes de voltar à cidade. Há também o lado intelectual da descoberta e de um trabalho continuo, de.uma renovação constante, pois tudo pode mudar a qualquer momento, com novos achados, novas técnicas, novas datações. É disto que gosto, o movimento intelectual, novos marcos, novos horizontes. Por exemplo, a classificação que havia feito das pinturas segundo sua antiguidade e estilo, deve hoje ser repensada, com as novas técnicas de datação e a mais antiga, Nordeste, considera-se agora a mais recente. Procuro neste momento uma /um candidata/o ao doutorado que queira estudar esta questão e propor uma nova classificação. Eu não tenho mais tempo. Quando fiz minha tese, havia estudado 50 sítios, hoje são mais de 600 e os mais antigos tem 30 mil anos. A arqueologia é uma ciência que não tem fim, onde tudo resta a descobrir e seu aporte ao conhecimento do humano é único. » Fomos interrompidas muitas vezes, os cachorrinhos que latiam ( fique quieto, cachorro-quente, zanga-se ela). Quando Niède tenta minimizar sua expertise e a importância de sua ação pessoal, a funcionária presente intervém: “ A senhora é uma mulher extraordinária, isto todos nós achamos!” diz ela. E o telefone que toca mais uma vez: “Ah, uma chamada perdida, vou chorar!” murmura Niède. Seu sucesso é notável: a criação de um parque nacional de preservação patrimonial e de meio-ambiente; a criação também de uma fundação (Fundação Museu do Homem Americano- Fumdham) para gerenciar a pesquisa e as escavações no parque; a instalação de um museu super moderno, a criação de uma Faculdade de arqueologia no local; a formação de pessoal especializado para dar prosseguimento às escavações, que vão durar ainda décadas, tendo em vista a importância e a quantidade de pinturas. Ela instalou laboratórios para classificar os instrumentos líticos, as cerâmicas, os vestígios orgânicos com um pessoal que ela mesma formou. Mais de 1000 sítios foram classificados, ou seja, uma ínfima parte de tudo que resta a escavar. Depois das chuvas, andando pelo Parque, instrumentos líticos e pedaços de cerâmica afloram no solo. O museu é espetacular, de alta tecnologia, auto-explicativo. A França apoiou e financiou os trabalhos de escavação no Parque e uma Missão Franco-Brasileira trabalha no local desde 1973. Esta missão era dirigida por Niède Guidon até sua aposentadoria, no fim dos anos 1990. A Serra da Capivara poderia ser uma dos locais mais visitados
da pré-história. Mas o governo brasileiro não se
preocupa com sua preservação – contra os caçadores,
a extração de minerais, o caminho das drogas na área
do parque – nem com a construção de uma infraestrutura que
auxiliaria o desenvolvimento do turismo na região, com benefícios
inumeráveis para a população. .
« Atenção, gongo !» « Atenção, gongo !» Sou eu. Não vão para o Zabelê. Estou chegando!” Bem cedinho, no volante de seu 4/4, esta mulher intrépida parte pelos caminhos de terra do Parque. A maior parte do tempo sozinha, o radio lhe serve para se comunicar com as guaritas ou com os trabalhadores que hoje lidam com a conservação das estradas. Tratores, pick-ups, carros e uns 20 homens que a esperam na beira do caminho para receber as diretivas. “Porque não começaram ainda” se indigna ela. E passa a explicar como fazer para o escoamento das águas no tempo das chuvas. Eles não compreendem. Ela re-explica e volta todas as manhãs para verificar o andamento dos trabalhos e para re-re-explicar. Ela tem 80 anos. Ainda no volante de seu 4/4 ela avança, célere, desce por caminhos incríveis. O carro fica cheio dos galhos e folhas da beira do caminho. tns. “Como vamos subir, na volta?” NG. “ Você verá”. E ví. UUUf ff! Todo mundo a conhece como « a Doutora ». Quando alguém se apresenta de sua parte as portas se abrem, os sorrisos aparecem. Mas se muitos a adoram, outras a detestam, os desocupados, os caçadores, os políticos corruptos, os traficantes de toda ordem. Ela os impede de impor sua lei e defende o Parque e as pinturas com todas suas forças, garras expostas. Houve alguns energúmenos, por exemplo, que fizeram fogo dentro das tocas, estragando assim pinturas que atravessaram os milênios. O que dizer daqueles que utilizam os desenhos como alvo?
Para fazer face à ignorância em suas raízes, Niède Guidon conseguiu construir cinco escolas que mantinham as crianças em seus recintos o dia todo, davam-lhes comida, banho, instrução e até música aprendiam. Isto durou cinco anos e a falta de apoio do governo levou as escolas a ter as portas cerradas. Os prédios estão lá, vazios. E a droga faz sua devastação entre os jovens. Sempre preocupada com sua formação, ela mantém ainda, por milagre, um espaço de acolhida para as crianças. O trabalho de Niède Guidon tornou possível o desenvolvimento da cidadezinha, perdida no meio do nada; deu esperança e trabalho a um enorme contingente de pessoas em um dos Estados mais pobres do Brasil. Nas guaritas ela empregou mulheres, pois os homens deixavam tudo abandonado, sujo, queriam que mulheres fossem fazer a limpeza, como bons machos que eram. Bebiam, recebiam mal os visitantes, sem camisa, sem o menor jeito para trabalhar com o público. Ela despediu-os todos e hoje as guaritas são impecáveis, com mulheres sorridentes que abrem os portões. Niède Guidon tentou ainda ajudar as mulheres locais com um projeto de artesanato, mas com um homem na direção, o dinheiro sumiu. Uma fábrica de cerâmica foi instalada, depois que ela fez vir artesãos para ensinar os habitantes locais esta arte. Hoje esta produção é exportada para a Europa e o sul do Brasil. A corrupção no Nordeste do Brasil é endêmica, o machismo é rei, as mulheres são esmagadas pelo trabalho enquanto os homens apreciam o sabor das tardes à sombra de uma árvore, preguiçando. Niède Guidon emprega no Parque, na Fundação do Homem americano, nos laboratórios, um grande número de mulheres que começam a levantar a cabeça, fazer projetos de futuro, de estudos, de promoção social, tal como nossa guia, que estuda na universidade local e quer fazer um doutorado em arqueologia. Um campus da Universidade do Vale do São Francisco foi instalado em São Raimundo, graças ao impulso científico criado pelas escavações, as classificações, todas as atividades da Missão franco-brasileira que lá trabalha há mais de trinta anos. Neste campus, que existe há cerca de 10 anos, há dois cursos complementares: história natural e arqueologia /preservação do patrimônio, já que a arqueologia exige conhecimentos extensos para conhecer e reconhecer sedimentos, camadas, ossos, etc. As/os estudantes se preparam no próprio loca, com trabalhos práticos nos sítios propriamente ditos. E são, sobretudo estas /es estudantes da região que vão compor as equipes de pesquisa futura, explica Dra. Niède Guidon. Com efeito, mais de 100 teses foram elaboradas a partir das escavações da Serra da Capivara, mas quase ninguém ficou na região. Toda esta atividade criou uma mudança de mentalidade e foi propícia principalmente às mulheres, que eram mudas e dominadas. É um enorme prazer ver estas jovens que recebem visitantes, explicam seu trabalho nos laboratórios, nas escavações, um aprendizado do qual Niède Guidon foi mentora e guia. Para estas mulheres que vivem no Brasil profundo, sua independência, sua coragem, sua perseverança, o amor pelo trabalho, pela liberdade, liberdade de pensar, de agir, um exemplo evidente. Neste momento, Niède Guidon conta com a ajuda temporária de estrangeiros, uma portuguesa, um francês. No mais, ela administra e se ocupa de tudo. As/os brasileiras/os , aliás, não querem se instalar em São Raimundo Nonato; no imaginário social brasileiro, o Piauí representa o limite do impossível.
Mulher forte, mulher de ação, mulher de aventura.
Sua aventura volta no tempo milhares de anos, sacudindo todas as noções estabelecidas sobre o caminhar humano, sobre suas relações, indica rupturas onde se acreditava que se havia seguido um caminho contínuo. Pensava-se que os primeiros habitantes das Américas haviam vindo da Europa pelo mar, pelo Estreito de Bering, há 10 mil anos. Ora, as evidencias encontradas por Niède Guidon nos expõem datações que remontam a 100 mil anos de presença humana no Piauí. [1]Estes dados fizeram estremecer a comunidade de arqueólogos e suas narrativas sobre a pré-história tiveram que ser modificadas. Isto desagradou muita gente, sobretudo aqueles que se consideravam donos de a “verdade”, imutável. Niède Guidon viveu tanto na França quanto no Brasil. Sua aventura de vida é também sua paixão por seu trabalho, por estas descobertas que a fazem sonhar todos os dias dos tempos em que as sociedade se deleitavam na alegria e na festa, como se vê em impressionante número de pinturas rupestres, em lugar da rude realidade atual, feita de violências e temores.
Desde sua infância deseja a independência e a liberdade, face a um pai viúvo e severo. E ela as conseguiu por seu esforço, sua vontade de saber, sua persistência a toda prova. Mas é, sobretudo a descoberta que agrada Niède Guidon em seu trabalho de arqueóloga: é saber que as escavações podem revelar painéis da história até agora desconhecidos. À parte a aventura de sua vida, que a conduziu do Brasil à França, fugindo da ditadura brasileira, para tudo recomeçar em outro país, é a aventura da exploração, a paixão do trabalho que lhe permitiram remontar no tempo e se encontrar face à estas imagens fascinantes, de sociedades outras, de seres e culturas , cujas formas e atividades são diversas. Ela fugiu do Brasil dos coronéis sem quase nada, deixando tudo para trás com uma vantagem, porém: ela havia sido aluna e amiga de Annette Empéraire, [2], que a acolheu em sua chegada na França. Niède Guidon viveu mais de 20 anos naquele país onde obteve um doutorado em arqueologia na Sorbonne e a nacionalidade francesa. A partir de 1973 voltou todos os anos ao Brasil encabeçando a Missão francesa, durante três meses, para realizar escavações nos sítios da Serra da Capivara, chamados Tocas. E dirigiu todos os trabalhos até sua aposentadoria como professora da Ecole de Hautes Etudes, em 1998. Em 1981 ela anuncia a descoberta de instrumentos de pedra talhada ou polida datando de 25 mil anos, o que invalida todas as teorias precedentes sobre as migrações humanas pelo Estreito de Bering para a América, há 10 mil anos. Em 1988 ela e sua equipe descobrem pedaços de carvão cuja datação remonta há 48 mil anos, na Pedra Furada. A comunidade científica estava em plena revolução! Mas, de fato, a missão franco-brasileira descobriu em seguida vestígios humanos datando de 100 mil anos! As escavações unicamente da Pedra Furada, um dos sítios, duraram mais de 10 anos e neste lugar as camadas sedimentares mostraram vestígios de fogueiras e a presença humana datando de 100 mil anos, bem como uma grande quantidade de pedras talhadas/ polidas, de alta tecnologia. E há ainda 1 400 sítios classificados aguardando escavações.
Uma parte deste sítio ficou intocada, pois existe a norma de conservar uma parte dos locais sem escavações, aguardando novas tecnologias de datação que possam confirmar o que já foi feito até agora. Esta é a perspectiva científica que não pretende dizer a última palavra sobre suas descobertas ou sobre a história da humanidade. Ou seja, leva em conta as transformações do saber, considerando todos os resultados como provisórios. Isto é ciência, não aquela que se fixa em verdades absolutas e intocáveis. Na Pedra Furada depois de uma pausa de dez anos, as escavações foram retomadas há pouco tempo. Nos sítios encontrados as escavações costumam atingir a base rochosa , pois “ enquanto há sedimentos, pode-se encontrar vestígios”, explica Niède. Depois que transferir sua residência de Paris a São Raimundo Nonato ( um salto geográfico e um abismo cultural) as escavações são feitas durante o ano todo. O museu propriamente dito possui uma apresentação áudio visual espetacular do Parque e das pinturas e segundo Niède Guidon, cada 3 ou 4 anos os objetos expostos mudam, tendo em vista que as novas descobertas são constantes.
Os humanos pré-históricos A própria denominação « pré-história » é arbitrária e preconceituosa, pois delimita aqueles espaços e culturas humanas dignos de pertencer à história, Ou não. Ou seja, alguns são mais históricos que outros... Niède Guidon explica: NG.« Na Indonésia, na Polinésia há vestígios do Homo Erectus datados de 850 mil anos. Na China descobriu-se ancestrais do Sapiens de 1 milhão de anos, que teria se espalhado pelo mundo. » Quando fiz meus estudos em arqueologia a existência do Homo Sapiens estava datada de 40 mil anos. Sabe-se hoje que esta datação recuou para 180 mil anos. Cada nova técnica de datação que acompanha as escavações como a termoluminiscencia, o saber sobre o passado se modifica. É assim que os vestígios humanos mais antigos da Lagoa Santa em Minas Gerais datavam de 12 mil anos, mas na Serra da Capivara encontrou-se um esqueleto de uma criança de 23 mil anos e pinturas datando de 32 mil anos.» tania navarro swain. « Mas não seria possível conceber a hipótese de uma eclosão simultânea do Sapiens em diferentes lugares da terra ? » NG. « Se o Sapiens é a mutação de alguma coisa que originou um tronco genético comum seria impossível que esta eclosão tenha acontecido ao mesmo tempo. A hipótese atual é que a expansão foi realizada pelo Homo Erectus, que já sabia navegar. Partindo da África com as correntes marítimas que vem do leste, teriam chegado ao Nordeste do Brasil, seguindo o curso do rio Parnaíba e do rio Piaui para entrar nas terra e encontrar-se onde estão os sítios da Serra da Capivara. » tns « Como se sabe que as sociedades que realizaram estas pinturas tinham uma economia de colheita e caça, tendo em vista o enorme período de tempo que elas cobrem? Não é possível que tenham domesticado plantas bem antes da Europa e do Oriente médio? NG. « Não foram encontrados vestígios de plantas domesticadas, mas é preciso deixar claro que nossas pesquisas não foram dirigidas neste sentido. Na região do Piaui o solo não é propício à agricultura, é tudo que podemos afirmar. Entretanto, encontramos 12 mil fósseis entre os quais vários exemplares de mega fauna. tns. Como se faz a datação das pinturas ? NG. « Há vários meios, segundo a configuração do terreno, por exemplo, as gotas de pigmentos encontradas no chão em um determinado nível sedimentar ou pinturas enterradas cujos sedimentos permitem alguns tipos de datação. Há igualmente as camadas de calcita que recobrem certas pinturas e que podemos datar. » tns. « Quanto à preservação das pinturas quais são os motivos de sua degradação e os meios para impedí-la ? NG. “ A degradação pode ser natural devido às chuvas, às mudanças climática, às bactérias ou aos fungos que crescem sobre as pinturas durante o período das chuvas e em seguida morrem sobre elas, na seca. Tentei trazer especialistas de limpeza e conservação das pinturas rupestres da França, mas nunca há dinheiro para coisa nenhuma. O turismo atual não causa degradação, primeiro porque os visitantes não podem andar pelo parque sem o acompanhamento de um guia e em seguido porque os sítios abertos à visitação são arranjados de tal forma que não se pode aproximar das pinturas nem jamais as tocar.” (foto) tns. « Quais as grandes diferenças entre as pinturas rupestres da Serra da Capivara e as da Europa ? NG. « Na Europa há poucas representações humanas, o que se vê são sobretudo animais e os motivos se repetem muito ; quando estudei arqueologia na França ensinava-se que a pintura rupestre da América era rudimentar, como desenhos de criança, que não havia perspectiva, possuíam uma tecnologia lítica rústica, comparando-se com a européia. À época havia pouquíssimas pesquisas no Brasil e concentravam –se sobretudo no Sul e Sudeste. Depois da descoberta das pinturas da Serra da Capivara constatou-se que havia perspectiva, mas diferente das que se conhecia habitualmente, das nossas, segundo seu próprio traçado. Quanto ao material lítico, a técnica é tão aperfeiçoada que não é em nada inferior às da Europa. Existem peças fantásticas, segundo a opinião dos próprios especialistas franceses.
Outra diferença entre a Serra da Capivara e as pinturas rupestres da Europa é a movimentação dos personagens, as pinturas apresentam às vezes cenas onde tudo é movimento, humanos e animais. Na Europa vê-se um movimento natural dos animais, mas não conjuntos coordenados. Por outro lado, os animais representados não são necessariamente objeto de caça. Há 6 mil anos, por exemplo, a lhama era um animal endêmico no Piaui. Em arqueologia todo o saber pode mudar de um momento para outro, segundo novas escavações e descobertas. .»(foto)
Arqueologia Esta visão da arqueologia como uma ciência em movimento está perfeitamente de acordo com a perspectiva atual do conhecimento científico, em todos os campos: não há nenhuma conclusão definitiva, nenhum resultado absoluto. A verdadeira ciência, como queria Karl Popper é aquela que não aceita nenhuma verdade irrevocável pois as teorias científicas são conjecturas e só a crítica pode assegurar um desenvolvimento da ciência. (Popper, 1989 :78). Apenas a pseudo-ciência, portanto, luta por verdades últimas. [3] A produção do conhecimento é também transformação e a arqueologia pode nos dar as chaves que a todo momento podem mudar a escrita da história humana. As pinturas rupestres da Serra da Capivara mostram humanos sempre em movimento, gestos de dança, fluidos, delicados cenas de acrobacia; não há imagens de morte, de violência, de sangue, de lutas. Há, sobretudo um ambiente de festa e de divertimento, os personagens humanos estão com freqüência de mãos dadas, em linha, em roda, em torno de árvores, pode-se quase ouvi-los cantar. (foto) Não partilho a opinião de André Leroi- Gourhan s[4],egundo a qual toda imagem não vinculada às coisas materiais da vida são religiosas ou cerimoniais. Pois a festa que nos salta aos olhos nas pinturas da Serra da Capivara é uma linguagem de prazer. Porque pretender que todo humano esteja prisioneiro de medos, presa de deuses, de ritos, de normas rígidas? No meu entender, estas pinturas apresentam cenas escolhidas da vida quotidiana, ou dos momentos ou eventos especiais, sem um caráter necessariamente sagrado ou ritual.(foto)Tns. Como vê as significações das pinturas da Serra da Capivara ? NG. « Não faço nenhuma espécie de interpretação. Mas posso imaginar um povo feliz, pois transmitem alegria, os braços levantados, quase sempre em grupos, em movimentos graciosos. Clima quente, muita água e comida, diz-se que o paraíso era no Piauí. Há algumas cenas que aparecem com recorrência, como a dança em torno de uma árvore e pode sugerir uma fixação de costumes ou de significações cujos códigos não possuímos. Diria que é uma espécie de pré- escrita.” (foto) As pinturas da Serra da Capivara nos mostram seres diversos, segundo as épocas ( as pinturas são classificadas em “tradições” cronológicas diversas[5]) , que acompanham estilos plurais) desenhados com traços finos ou mais espessos, vermelhos, brancos, azuis, negros. (foto)Animais que fazem parte de suas vidas são representados em grande número, e são os maiores e os mais importantes nos painéis. Os seres humanos são muitas vezes minúsculos. Os painéis compreendem uma variedade de cenas, a maioria sem uma relação evidente entre elas.(foto) Seres humanos, animais de todo tipo da região, cenas coletivas de movimentos diversos, acrobacias, danças, grupos de alguns animais, grupos de algumas pessoas, indivíduos isolados, as pinturas se espalham por mais de 700 sítios. Algumas muito bem conservadas, outras que já sofreram com o passar do tempo, as mudanças de clima, as depredações diversas. Meio apagadas, algumas difusas, mas no meio de paisagens magníficas, depois de muito andar, encontrar um pequenino desenho ou vários, é um enorme prazer. .
Grafismos puros também estão presentes em vários sítios. Seriam uma espécie de comunicação, de registros de acontecimentos dignos de serem retidos e transmitidos? Quais seriam os significados à época de sua execução? Quem pode saber?(foto)
Toda interpretação é inútil, mas permanece o fato que as imagens, materiais ou mentais são representações de alguma coisa, são realizadas em certas condições de produção e imaginação, talvez uma forma de conhecimento socialmente elaborada, um saber específico, portanto, de uma certa época(Jodelet, 1989). Pode-se assim ter no mínimo a certeza de que havia uma significação e a grande frustração é de não poder alcançá-la. Pouco importa, podemos sempre usar a imaginação. O que não é suportável é ouvir discursos de “verdade” anacrônicos, sobre religiosidades e temores “naturais”, sobre uma “natureza humana” que seria a mesma em suas expressões, desde a aurora dos tempos. Há cenas que despertam um interesse particular nos visitantes e aparecem em todas as reproduções, apesar de seu tamanho freqüentemente reduzido. São cenas sexuais, hetero ou homossexuais, segundo o contexto ou a interpretação. Pode-se decidir que os círculos no lugar do sexo pertencem ao feminino, enquanto uma protuberância toma o lugar de um falo de forma bastante clara, para o outro personagem da cena. Ao lado destas, outras cenas mostram atos pré-sexuais nas quais um dos personagens não tem o círculo. Mas também não tem pênis. Homossexual? A sodomia, porém, não existe apenas em relações homossexuais. E então?
Só o que se pode afirmar é que tinham práticas sexuais e que elas foram desenhadas.(foto) Há uma imagem, singular entre todas, isolada em uma reentrância do paredão da Serra Furada, de uma extrema delicadeza, de um beijo apenas esboçado, retomado por todas as fotografias, reproduzido em todas as peças de artesanato. É a pintura mais expressiva. Um beijo entre mulheres? Não há evidencia sexual, não há pênis, portanto... Se não nos encontramos em um sistema social que instaure a heterossexualidade obrigatória (Rich, 1981), como o patriarcado, o comportamento sexual não segue a lei reprodutiva como referente, e que constrói automaticamente a diferença, a figura do “anormal”, da exclusão, da abjeção social baseada sobre o que escapa à regra. De fato, a maior parte das representações humanas nos painéis da Serra da Capivara não tem marcas sexuadas. Há, assim, de modo geral, uma in-diferença sexual, o que mostra não ser o sexo o eixo e fundamento do social.
Há algumas cenas que lembram um parto, uma ou duas figuras com um ventre proeminente, gravidez, talvez. Alguns falos aqui e ali, mas nada leva a pensar em uma sociedade regulada pelo sexo social masculino, aquele que estabelece papéis, tarefas, hierarquias de acordo com o aparelho genital. Em todo caso, não eram sociedades obcecadas pelo sexo ou pela sexualidade, como as nossas.(foto) Todas as figuras sem pênis, a imensa maioria no conjunto dos painéis, como já aventamos, seriam mulheres? Ou a identidade sexuada não tinha importância fora do quadro reprodutivo? De qualquer forma, as pinturas não sugerem uma divisão de trabalho sexuado, um enclausuramento de um sexo em certas tarefas, pois, à parte cenas de sexualidade reprodutiva, todos os personagens humanos estão representados em todas as atividades.(foto) As questões que se colocam são tantas e estas pinturas nos levam àquilo que costumo chamar a “história do possível”, ou seja, a busca de sociedades outras, com relações não hierarquizadas, nem marcadas pelo sexo biológico. Sociedades não patriarcais, enfim, nas quais o poder não é o fundamento, seres que se relacionam fora dos esquemas binários nos quais estamos acorrentados. Afinal, quando o discurso da “natureza” se esvai resta a multiplicidade das relações humanas, liberadas do poder das cadeias de um sexo onipotente. tns. « Que pensa sobre as cenas sexuais apresentadas nas pinturas? Você acha que há indícios de uma hierarquia sexuada?» NG. « Não, de modo algum. As pinturas mostram algumas cenas de sexualidade reprodutiva e outras expressoões sexuais. O prazer, talvez? » (foto) Para Foucault, o sexo e a sexualidade como os compreendemos atualmente são fruto de uma composição de forças sociais ; sua composição foi, de toda evidencia, regida pela vontade de poder de um sexo sobre outro. « [...a noção de ‘sexo’ permitiu reagrupar segundo uma unidade artificial elementos anatômicos, funções biológicas, condutas, sensações , prazeres e permitiu o funcionamento desta unidade fictícia como princípio causal, sentido onipresente, segredo a descobrir em toda parte : o sexo portanto pode funcionar como significante único e como significado universal.» (Foucault, 1976 :204) A importância dada atualmente à ‘diferença sexual’, à criação de um sexo social que determina ‘naturalmente’ as tarefas, os papéis, a ação, a importância, o poder do masculino sobre o feminino é o fruto de domínio patriarcal sobre o imaginário e as representações sociais. Histórico, datado, pode ser seguido em sua instituição nas formações sociais conhecidas. Existem hoje pesquisas importantes sobre as sociedades não patriarcais que são afastadas do imaginário social como sendo ‘míticas’, ou mesmo impossíveis. [6] Não precisamos ir além do que as sociedades indígenas brasileiras, nas quais, segundo os primeiros cronistas, o sexo genital não era uma marca incontornável da posição social dos indivíduos. Elas/eles podiam, aliás, escolher seu sexo social e assim, o cacique que conduzia à guerra podia ser fisicamente de sexo genital feminino. As verdadeiras autoridades eram os xamãs, mulheres ou homens. E as uniões eram livres, os homens não possuíam as mulheres, podiam mudar de parceira/o quando queriam e pouco importando seu sexo ‘natural’. [7] (foto) Para Foucault, « É da instancia do sexo que é preciso libertar se, por uma inversão tática dos diversos mecanismos da sexualidade, queremos valorizar, contra as garras do poder, os corpos, os prazeres, os saberes em sua multiplicidade e sua possibilidade de resistência. Contra o dispositivo da sexualidade, o ponto de apoio do contra ataque não deve ser o sexo-desejo, mas os corpos e seus prazeres. »(Foucault,1976 :208) Um retorno às fontes da pré-história ? ]
tns. « Enquanto historiadora feminista estimo que a utilização de « homem » para designar a humanidade é um fator de invisibilização das mulheres. Aliás, quando pedimos a evocação de uma imagem da pré-história em sala de aula, a primeira é incontornável: o homem que arrasta uma mulher pelos cabelos, com uma massa no ombro. O que pensa a este respeito? NG. Dizer « homem » neste sentido geral e pensar no masculino para mim é ignorância. Pura e simples. Quanto à imagem lembrada, diria que desde este tempo os homens não sabem como tratar as mulheres, senão pela força bruta. ( pequeno sorisso maroto) Entretanto, os domínios da linguagem e da comunicação modelam o imaginário social através estas representações de imagens que criam tradições e justificativas para a inferiorização social das mulheres. Quando se diz “o homem criou a roda, ninguém pensa que isto poderia ter sido obra de uma mulher; quando se fala das pinturas pré-históricas a possibilidade que estas criações sejam obra de mulheres sequer aflora os espíritos.(foto) É assim que o esqueleto encontrado na Serra da Capivara, enterrado com pontas de flecha foi considerado a princípio, culturalmente, um homem. Depois de análise em laboratório, verificou-se que era uma mulher. “Uma amazona?” interroga Niède Guidon Se a premissa não fosse que a « diferença sexual » ordena necessariamente as tarefas e papéis sociais, as pontas de flecha encontradas ao lado de um esqueleto de mulher mostraria que não havia divisão de trabalho baseada no sexo biológico. O que se confirma através das pinturas. Mas as representações sociais do patriarcado apoiando, as Índias guerreiras ( chamadas Amazonas brasileiras) encontradas por Francisco Orellana em sua descida pelo rio Amazonas em 1541 /42 foram afastadas da história e rejeitadas ao domínio do mito. Pois, é evidente, mulheres guerreiras, é impossível sua existência![8] (foto) Aliás, ser mulher ou homem fora de um contexto histórico definido nada significa; há longo tempo a literatura feminista argumenta que não há gênero fora de práticas de gênero e estas últimas são singulares segundo o espaço e o tempo nos quais se desenvolvem. Não faz nenhum sentido também invocar as tradições ou os comportamentos, para dar ao masculino uma prioridade social qualquer fora das práticas conhecidas. Ainda mais quando se trata da pré- história.
Em todo caso, o « homem americano » de 10 mil anos, encontrado na Toca do Antonião, era uma mulher biológica. ( web, Peyre) Niède Guidon. Mulher de aventura, mulher de ação. A aventura no tempo, a aventura do tempo, da produção do saber, do trabalho nfatigável, tão cercada de gente e tão só . Tão forte e tão frágil, esta mulher é uma força da natureza, brilho de inteligência, produtora incansável do saber. Mergulha com freqüência seus dedos em uma cabeleira abundante, prateada, gesto habitual; a acolhida é toda em generosidade, sedutora e esquiva, o sorriso rato, Niède Guidon é um personagem cativante, mas que impõe suas distancias. Fica a vontade de ser sua amiga, de estar próxima, de escutar suas óperas com ela, de ajudá-la a furar os pneus dos caçadores, de partilhar seu sua sabedoria de vida e também seu saber. Fica a vontade....
Referências bibliográficas: Guidon, Niède, 1991.Peintures préhistoriques au Brésil, l´art rupestre du Piaui, ERC. Peyre, Evelyne. L´homme pré-historique de São Raimundo Nonato (Piaui, Brésil) http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/bspf_0249-7638_1994_num_91_4_9733 POPPER, K.R. 1989. Em busca de um mundo melhor. Lisboa: Fragmentos, RICH Adrienne. 1981. La contrainte à l'hétérosexualité
et l'existence lesbienne, Nouvelles Questions Féministes, Paris,
JODELET, Denise. 1989.Les représentations sociales, un domaine en expansion. In :___ (dir) Représentations sociales. Paris : PUF FOUCAULT, Michel. 1976, Histoire de La sexualité, v. 1. Paris, Gallimard. Para mais informações sobre as pesquisas em antropologia física, ver, por exemplo: [1] Os traços mais antigos do Homo Sapiens, datados de 180 000 anos foram encontrados na Africa. [2] Famosa arqueóloga francesa que dirigiu escavações no Brasil, na Lagoa Santa. [3] para mais informações sobre as pesquisas atuais en antropologia física ver : [4] André Leroi- Gourhan . Les religions pré-historiques, Paris, PUF, 1964 [5] voir Guidon , Niède, bibliographie. [6] voir, por exemplo o trabalho de Peggy Reeves Sanday ou de Heide Gottner-Abendroth [7] ver a este respeito meu artigo em http://www.tanianavarroswain.com.br/francais/construction.htm |