Monique Wittig, adeus…até mais…
Monique Wittig nos deixou em janeiro 2003. O que se pode dizer de alguém, sua vida, emoções, desejos, laços, sem reduzi-los a algumas palavras, em uma cartografia constitutivamente lacunar? O que se pode dizer sobre Monique Wittig? A idade, o local de nascimento, detalhes significativos para delimitar seu lugar de fala, mas qual a importância, já que este lugar, como os nossos, são apenas transformação? Monique Wittig, jovem feminista francesa nos anos 1970 marcou, com sua reflexão , as instâncias de teorização feminista com sua aguda análise dos mecanismos de produção das “mulheres”, identificando sob a denominação de “pensée straigt” suas categorias fundadoras, entre as quais o contrato heterossexual. Anunciou também o lugar de recusa e de contestação deste quadro de pensamento ordenador e normativo, identificando-o, para escândalo de muitas/os, como sendo a lesbiana, que para ela, “ não é uma mulher”. Infelizmente pouco conhecida no Brasil, seu trabalho tem um espaço importante nas teorizações feministas norte-americanas e vemos sua obra comentada por nomes hoje famosos como Judith Butler e Teresa de Lauretis. Romancista, seu trabalho literário é um componente de suas posturas feministas, aprofundado pela linguagem poética, liberta da expressão formal acadêmica, abrindo as asas que a fazem sobrevoar os labirintos da “ pensée straight” , dos corredores sem fim dos quais todas nós buscamos as saídas. Cada uma de nós, feministas, recebe o impacto de suas reflexões a seu modo, cada uma de nós elabora seus enunciados, segundo nossas próprias estratégias e nas condições que são as nossas , segundo nosso desejo de excede-las. Esta comunicação é uma homenagem a Monique Wittig, que nos trouxe, pioneira entre as pioneiras dos anos 1970, o questionamento das evidências mais ancoradas em nossas representações, como o contrato heterossexual na formação identitária do “ ser mulher”, propondo a eliminação dos gêneros fundados em corpos construídos.Queremos recordar seu nome, sua argumentação, pois para a “ pensée straigt” que constrói nossos corpos, nossa linguagem, a própria realidade e mesmo para certas correntes feminista, Monique Wittig foi incômoda demais, ameaçadora demais para ter seu lugar merecido, entre os nomes de referência acadêmico/literária. |