Construcción de opinión y divulgación en el contexto de las nuevas tecnologías" Mesa Redonda:Buenos Aires A construção da opinião pública é feita através de tecnologias diversas, que vão da educação formal à mídia em seus diferentes suportes: propaganda, jornais, revistas, televisão, cinema, vídeo, vídeo games, internet, etc. Dentre as novas tecnologias, o espaço virtual, a internet abrem possibilidades infinitas de produção e divulgação do conhecimento, de criatividade e transformação das relações humanas. Estas tecnologias, porém, que chamo igualmente de pedagogias sociais divulgam não apenas fatos e análises, enredos ficcionais, mas representações sociais. Denise Jodelet situa representações sociais como forma de conhecimento construída e partilhada socialmente, que cria estruturas, instituições, normas, modelos, comportamento, valores. As pedagogias sociais encarregam-se de sua divulgação em termos de verdades, tradição, evidências, sobretudo no que diz respeito à divisão binária em sexos opostos. >Assim as tecnologias de sexo/ gênero, que produzem e instauram a diferença de sexo, função e importância social, analisadas por Teresa de Lauretis compreendem tanto as tradicionais formas de aprendizado quanto as novas tecnologias de comunicação e interação social. Criam necessidades, estimulam práticas, definem padrões de comportamento: se algumas, como a internet, abrem algum espaço para um imaginário concorrente e desconstrutor de estereótipos, outras sequer questionam a norma e continuam a repetir incansavelmente as mesmas representações, clichês, imagens reiteradoras do Mesmo: o mesmo binário, o mesmo sistema sexo /gênero gerador de diferenças políticas e inferioridade social. Estas tecnologias expressam as práticas desenvolvidas em torno de valores e representações sociais: visam o convencimento, a implantação e o assujeitamento às normas e modelos, sob pena de anátema e/ou exclusão. Assujeitar-se significa adotar as delimitações propostas de tal forma que se confundam com o ser, que se transformem em identidade, que se essencializem em destinos biológicos, espelhos onde passam imagens fugazes, fixando-as ao definir seus contornos. As estratégias de instituição de gêneros hierarquizados, cujo referente é o masculino, tem o convencimento, a repetição, o exemplo, a tradição como armas talvez mais eficazes que a coerção ou a violência física. Criam dobras e impasses no processo de subjetivação e esta construção do sistema que institui gênero atrelado ao sexo biológico é uma violência simbólica, na medida em que limita as margens da liberdade individual de ser. Desta forma, as tecnologias de gênero atuam no sentido de criar diferenças em torno de um humano binário, classificando-o em mulher/homem fundado na elegia à virilidade simbólica e material. Os sentidos que circulam no social, construídos e divulgados nestas pedagogias de gênero definem “mulher” como apêndice, complemento, objeto do homem e apenas neste sentido parece-me relacional. Se o masculino é também construído, o é enquanto lócus de poder, autoridade e referência. O detalhe biológico – o aparelho genital – é designado como valor supremo na divisão binária do mundo, ancorado na justificativa da reprodução – daí se constrói um esquema de valores e importância, cujo ápice é o referente masculino. A diferença que se constata na experiência social entre mulheres e homens, embora construída, é também extremamente real; porém, é uma diferença política que se funda em um sistema de valores e representações sociais. Não existe, portanto, uma diferença “natural”, já que somos todos diferentes, mesmo em relação a nós mesmas. Existe sim um corte cirúrgico no humano, dividindo-o em mulheres e homens a partir de um modelo reprodutivo e heterossexual em que se fixam identidades, atribuindo papéis e funções aos sujeitos sociais. As tecnologias de repetição e aprendizado divulgam e enfatizam estes modelos como os únicos possíveis e desejáveis e as novas tecnologias estão igualmente invadidas por estas representações. Atrelado e constitutivo destas tecnologias o interesse econômico expande um mercado em torno dos modelos e estilos de corpos, em ganhos exponenciais. Deste mercado, a propaganda, a televisão, a internet e a mídia em geral participam e o constituem. O mundo do consumo dos corpos e/ou objetos responde às incitações das pedagogias e tecnologias de convencimento. >Se nossos corpos têm uma base biológica, a determinação social de um gênero é uma construção arbitrária e política, sobretudo quando confere poder e autoridade a um dos segmentos, em detrimento do outro. Neste sentido, fica clara a formulação de Judith Butler, segundo a qual não existe gênero fora de práticas de gênero, ou seja, o sexo, finalmente é uma construção do próprio gênero, já que é definido como divisor de águas socialmente. Nesta perspectiva, a definição de “mulher” se insere em todo um sistema de dominação /assujeitamento, um aparato selado pelo contrato heterossexual e pela injunção à maternidade: destino biológico, função social das mulheres transformadas em ventres reprodutores e / ou receptáculos de desejo masculino. Além disto, “mulher” se define no singular: o homem significa a humanidade, os homens, as singularidades do masculino. “A mulher”, ao contrário, significa todas as mulheres, uma especificidade do humano, marcada pela função reprodutiva, fixada em um corpo que vela todas as singularidades, expressão do Mesmo. Apaga-se, neste singular, toda a diversidade, tornando “a mulher” algo destituído de individualidade, intercambiável. Esta é a perspectiva que se ensina e se reproduz em tecnologias diversas na repetição e propagação de representações sociais das mulheres: a mãe versus a sedutora, representações repetidas à exaustão e que significam a culminância do “ser mulher”, representações nas quais o feminino é emoldurado desde a mais tenra infância. E isto se pode verificar, pelo menos no Brasil, em programas de televisão de grande público, onde meninas de 6 /8 anos repetem trejeitos sensuais/ sexuais, em danças lascivas, mimetizando o que se considera “se r mulher”. A repetição cria certezas e evidências cuja única substância é a insistência social em solidificá-las em corpos limitados socialmente ao feminino. E este feminino construído e ensinado socialmente passa a ser causa das exclusões sociais das mulheres, cujas deficiências e fraquezas seriam parte de sua biologia e de sua essência, de sua “natureza”. Ora, a repetição constante, o aprendizado do “ser mulher” por si só apontam para a fragilidade desta modelagem, que ruiria se não fosse reconstruída em permanência. Este é o papel das tecnologias de gênero, que se desdobram no dispositivo da sexualidade, apontado por Foucault e no dispositivo amoroso, assim denominado por mim quanto ao investimento social na instituição de um feminino conduzido pelo amor, sacrifício e pelo cuidado de outrem. O dispositivo da sexualidade seria uma economia societária com tentáculos múltiplos, abrangendo todos os investimentos sociais voltados à propagação, louvação, exigência de sexo e sexualidade como adensamento do ser, como motivo e razão da existência. Para as mulheres, este dispositivo se flexiona na conversão de seus desejos em parâmetros masculinos, na busca de um orgasmo generalizado que justifique sua importância nos relacionamentos humanos. A série de TV “sex and the city” é disto exemplar, na medida em que o orgasmo se torna quase um objeto separado dos corpos: “perdi meu orgasmo”, lamenta uma de suas protagonistas, como se fosse sua carteira ou suas chaves, no turbilhão de uma busca desenfreada de uma sexualidade constante, cujo objetivo é apenas a repetição. Assim como na televisão, a violência e o sexo distinguem-se por uma tênue linha que não cessa de ser apagada. A simbólica do poder e da sexualidade ligada ao masculino apresenta a violência como algo natural nas práticas sexuais, desenrolando-se em clima de submissão e controle. Um exemplo lapidar é um antigo filme de Sergio Leone, recentemente difundo na TV a cabo[1], e o acontecimento, como assinala Foucualt, está em sua reapresentação, reafirmando em imagens a relevância do masculino: o início é uma cascata correndo sobre as pedras, identificada na cena seguinte pela imagem de uma braguilha sendo fechada, marcando o filme com o selo do pênis. Logo em seguida uma cena de estupro, onde a exposição do pênis paralisa a mocinha e a faz ceder, tal serpente hipnotizando sua presa. As mulheres, além disto, sofrem a injunção do dispositivo amoroso: este constrói e ensina às mulheres a necessidade do esquecimento de si, do cuidado de outrem, da abdicação de seus desejos, da submissão à ordem estabelecida, do respeito às regras e normas sob pena de exclusão, banimento, execração e até mesmo lapidação em alguns países. Sob o signo do Amor: amor à família, ao próximo, amor que as faz realizar as tarefas mais cansativas e rotineiras, que as faz se ocupar dos enfermos e das crianças, idosos e necessitados. O exemplo no cotidiano é a dupla ou tripla jornada de trabalho das mulheres, que além de trabalhar fora tomam como tarefa o cuidado da roupa da família, a comida, as compras, as lições, o transporte das crianças, etc. O que, além do dispositivo amoroso que as cega ao construí-las no Amor, conduziria legiões de mulheres a aceitar uma divisão de trabalho social tão injusta? É assim que o assujeitamento faz parte do dispositivo amoroso, e justifica a existência das mulheres no dom de si, no desejo e no bem estar dos outros, de “ser mulher”. Neste sentido, as pedagogias sociais ensinam comportamentos “próprios” ao feminino que se desdobram na escravidão da moda, da beleza, da escultura dos corpos, da magreza, da sedução, enfim, razão de todos os sacrifícios e investimentos. E nisto, as tecnologias de gênero criam e divulgam técnicas de convencimento, ensinando, criando, instituindo mulheres e modelando corpos, em uma perspectiva que leva em consideração o olhar de outrem para a afirmação de sua identidade e de sua existência. As novas tecnologias de comunicação que universalizam a notícia, a norma, o estilo dos corpos a serem exibidos expandem ad infinitum as normas criadoras da diferença sexual e dos valores hierarquizados de gênero. É assim, que, por exemplo, basta ligar a televisão para nos confrontarmos com a sexualidade como eixo da existência e seu corolário, a violência sexual. Isto torna habitual o que deveria ser excepcional e decepa a capacidade de indignação, de revolta, de insubmissão. As práticas sociais em países democráticos e “avançados” em direitos humanos ainda minimizam os crimes contra as mulheres, a violência doméstica, o estupro e a apropriação coletiva das mulheres simbolizada na violência paroxística da prostituição. E isto é função da repetição das representações sociais que codificam os comportamentos e acenam para o assujeitamento ao “ser mulher”, que inclui a heterossexualidade compulsória e a maternidade como fatores de inclusão social. Se um dos objetivos dos feminismos é transformar o mundo, um de seus meios e talvez o mais importante é a mudança nas representações sociais que ordenam o humano em feminino e masculino. Estas representações são o cadinho onde se forjam imagens de si, de outrem, de identidades inteligíveis, de inclusão social. Assim, sua transformação modifica ispso facto o fluxo de pedagogias sociais que constroem os seres no mundo. As novas tecnologias, entre elas a internet, que globalizam cada vez mais o dispositivo da sexualidade e o dispositivo amoroso vêm criando padrões de comunicação desencadernados que, contraditoriamente, ao desvincular-se das imagens corporais aumentam o consumo dos corpos. De fato, no mundo virtual, o local de fala se esvai, as identidades se multiplicam e se trocam, os papéis sociais se confundem e se mesclam: posso, na internet ser mulher ou homem, a idade desaparece na mentira virtual, os estilos de corpos se padronizam em torno do modelo desejável, aceito, consumível. Entretanto, as possibilidades infinitas de mudança no mundo virtual são ancoradas constantemente nas divisões e hierarquias sociais e binárias. Assim, nos chats, e orkuts a idade, o modelo corporal, a cor da pele, a procedência são marcos de uma individualização que, imaginária, reproduz a ordem do discurso. Sexualidade como eixo principal exacerbada nos sites de pedofilia, de estupro e morte virtuais, que transpõem a realidade sexuada, atravessada de violência e poder ao campo do virtual. Neste sentido, a internet criou um voyeurismo generalizado, onde o mistério e a fluidez da não identidade se transformam na exploração abjeta de crianças e mulheres para o prazer de um olhar ávido do desejo de poder, travestido em prazer. Instrumento de divulgação do saber e de possíveis transformações do mundo, os investimentos patriarcais na internet fazem deste poderoso meio de comunicação um multiplicador do dispositivo da sexualidade e seus desdobramentos de violência. De fato, a pornografia virtual revela a face do poder que a engendra: seu motor se apóia no sexo, mas o espetáculo é o da dominação, da brutalidade, de uma violência sem limites, que corta os ares sem restrição e reforça um imaginário onde o exercício da força e do poder sobre outrem são a fonte principal de prazer. É nesta perspectiva que Rosi Braidotti afirma que apesar da tecnologia virtual prometer um mundo além das diferenças de gênero, o abismo binário tende a crescer. A própria globalização, ao estender a noção de direitos humanos das mulheres banaliza na mídia o espetáculo de mulheres, corpos e rostos velados, sem educação, sem cidadania, corpos usados, vendidos, trocados, que não causam indignação, que são mostrados e justificados pela mídia pelas relações “culturais” e exóticas. A globalização mediática e econômica apenas aprofunda o imenso abismo entre ricos e pobres e naturalmente, entre homens e mulheres, estas últimas o mais fraco elo da corrente, quando capitalismo e patriarcado, unidos, exacerbam seus poderes em escala mundial. A louvação das novas tecnologias encobre, di\ Braidotti ela, a crescente polarização de meios e recursos na qual as mulheres são as principais perdedoras. No campo do imaginário virtual, os papéis de gênero continuam a ser repetidos e instituídos de forma binária e hierarquizada. Quem conhece um pouco de vídeo games sabe que as mulheres, mesmo quando são possíveis heroínas são mais fracas e mais frágeis para lutar contra os adversários e estão sempre vestidas de forma provocante e “sensual”. Quem escolhe uma heroína em vídeo games chegará ao fim com muito maior dificuldade que se escolhesse um personagem masculino. De toda a forma, a trama dos vídeo games escapa em geral a temas atrativos para as “verdadeiras mulheres” – se ao menos tudo fosse cor-de-rosa e os monstros príncipes encantados talvez as adolescentes se interessassem por eles, dentro das representações sociais nas quais foram construídas. Criaram recentemente um vídeo sobre o seriado “Desperate housewives”, onde o dispositivo amoroso e o da sexualidade atuam com força total. Talvez assim se crie um mercado “feminino” para os vídeo games, mas sempre obedecendo à dinâmica de gêneros essencializados. Sob o signo do Amor. É pena, pois, abstraindo a violência brutal, jogar vídeo game traz uma destreza de espírito, uma rapidez de raciocínio, uma inquietação constante de busca e de defesa, mundo que se fecha às meninas por sua própria opção “feminina”. Mas os feminismos também investem a internet, criando coalizões antes invisíveis, como das lesbianas, produzindo conhecimento e sobretudo divulgando e decodificando as estratégias de diferenciação dos sexos, de assujeitamento, desvelando as estratégias que retiram da definição “mulher” o caráter de sujeito político, de agente em seu processo de individuação. Questionam-se a identidade, a sexualidade, as funções biológicas e “evidentes”. A conscientização, a resistência aos estereótipos ou no mínimo, a problematização do “ser mulher” podem resultar destas iniciativas numa escala nunca antes atingida pela divulgação das teorias e análises feministas. As revistas feministas que se tornam ou se constroem on line - sem restrição de acesso - boicotam o mercado editorial ao se colocarem ao alcance de todas. Quebra-se assim a armadura capitalista, da qual não escapam muitas publicações feministas on line, mas à custa de trabalho voluntário – o que, mais uma vez, repete característica do ser feminino, como bem sublinha Colette Guillaumin. É difícil quebrar as representações sociais do “ser mulher”, mas não se pode evitar este movimento “in e out” que nos reconduz ao sexo social ao mesmo tempo em que, como feministas, dele fazemos a crítica e expressamos nossa recusa. O cyber feminismo, a partir da Austrália, inaugurou nos anos 1990 um espaço de re-criação do ser, explodindo as evidências corporais e a fixidez das identidades. Entretanto, as mulheres ainda continuam as grandes ausentes do espaço virtual, penetrando-o de forma claudicante, quando a ele tem acesso, e este não é um ponto menor. Como editora da revista digital Labrys, que não se quer convencional, sinto-me perplexa pela dificuldade que tem as mulheres de lidar com a navegação virtual. Mesmo àqueles que tem pleno acesso à internet, parece que tudo que não está absolutamente explícito torna-se intransponível. Atribuo isto à falta de curiosidade e de manejo de programas, não por serem incapazes, mas por aderirem a um modelo que não estimula o gosto e o desejo do conhecimento técnico ou simplesmente o gosto da descoberta. Face às novas tecnologias, os feminismos, seja qual for sua tendência, não podem ficar ausentes. As revistas feministas impressas tem de hábito, problemas sérios de financiamento e divulgação, pelo seu próprio caráter inovador. Neste sentido , o caráter político destas publicações é adensado em seu aparecimento on line e sem restirções de acesso, pois assim faz chegar aos mais recuados rincões uma a consciência da construção e instituição da diferença política sexual. Este instrumento quase inimaginável de transmissão, produção e divulgação de conhecimento, que é a Internet, pode ser uma das formas de se transformar as representações sociais que nos constroem em sexo e gênero. Resta quebrar a crosta de pobreza, ignorância e assujeitamento que impede / afasta / impossibilita à maioria das mulheres o acesso a estas tecnologias. Ou seja, mudar o mundo. Nossa tarefa. O futuro se faz hoje e aquilo que foi construído, pode ser desconstruído, como bem afirmou Foucault. As novas tecnologias de divulgação e conhecimento podem e devem ser nossas aliadas. [1] Giù la testa (ing.: A Fistful of Dynamite, ou Duck, You Sucker ou Once Upon a Time … The Revolutionis), (br.: Quando Explode a Vingança / Era uma vez a Revolução), é um filme italiano de 1971 do gênero Western, dirigido por Sergio Leone. |