tania navarro swain *
                       Resumo:
                      Os múltiplos feminismos , desnaturalizando 
                        as essências do humano criam o solo dos questionamentos 
                        que atravessam a segunda metade do século XX. De 
                        fato, " diferença dos sexos", aparece 
                        como a "evidência"maior, inquestionável 
                        , nos diferentes discursos sociais, que atravessam e constituem 
                        as sociedades atuais. Foucault, bem como outros autores 
                        ditos " pós-modernos" enveredam 
                        pela desconstrução das certezas e a destruição 
                        das evidências: neste texto, pretendo traçar 
                        linhas de convergência entre as perspectivas foucaultianas 
                        e os feminismos, que parecem criar campos de inspiração 
                        mútua.
                      Palavras-chave: feminismos, Foucault, 
                        diferença dos sexos.
                       
                       
                      Se a noção de intertextualidade 
                        nos conduz a uma intersecção de textos e discursos, instituinte 
                        e instituidores de formações discursivas 
                        e suas respectivas condições de produção, 
                        é inegável que as reflexões e propostas 
                        feministas cruzam-se com as análises feitas por 
                        Foucault sobre a formulação dos discursos 
                        e sua pregnância social. 
                      O " linguistic turn" está presente 
                        neste movimento de rediscussão do caráter construído do 
                        social e da própria ciência e neste sentido, a autoridade 
                        de Foucault é incontornável, mesmo que seja para criticá-lo. 
                        A literatura acadêmica feminista, porém, nos mais diversos 
                        campos disciplinares tem sido sistematicamente ignorada 
                        no seio institucional, notadamente no Brasil. Esta é uma 
                        ocasião para refletir sobre esta invisibilidade e sobre 
                        a imbricação das propostas de crítica do social e de transformação 
                        política do agenciamento humano, pois  falar 
                        de feminismo significa tocar em um dos tabus mais evitados, 
                        principalmente por mulheres, que temem ser 
                        consideradas “feias, mal amadas, lesbianas, inadequadas” 
                        . 
                       * * *
                      A História nunca mais será a mesma, a das 
                        certezas e dos positivismos, a das visões de mundo, e 
                        das contradições a serem resolvidas. A História hoje, 
                        é uma disciplina instigante, aberta às questões e aos 
                        paradoxos, perguntando, em lugar de concluir, 
                        cuja preocupação central não é a descrição ou a compreensão 
                        de fatos ou comportamentos esperados. A História, hoje, 
                        seria fator de desordem do discurso, apontando a falácia 
                        das hegemonias, como construções interpretativas. 
                      A História, hoje, não tenta esconder 
                        ou driblar o conteúdo imaginativo de 
                        suas narrativas; ao contrário, reivindica a  poderosa 
                        força da imaginação para detectar 
                        o possível, o silenciado, os comportamentos e relações 
                        humanas que não obedecem aos estereótipos e padrões; aponta 
                        para um universo onde a fissura é a superfície, 
                        pois reconhece como construídos os paradigmas 
                        de “ mentalidades hegemônicas” ou de “ visões de mundo” 
                        , compartilhadas por uma maioria.Depois de Foucault, a 
                        própria idéia de “maioria” se torna disseminação, aglutinações 
                        provisórias e temporais. 
                      A História , hoje, de fato, é meta- crítica 
                        política de sua própria instituição, enquanto disciplina 
                        acadêmica e discurso normatizador, alicerce de tradições 
                        e costumes, recriadora de valores e modelos,  cuja 
                        justificação está apenas em sua constante repetição. 
                       Esta força imaginativa nos permite 
                        adentrar regiões desconhecidas apesar 
                        dos moldes das representações sociais em que somos construídas, 
                        ensinadas, preparadas para repetir 
                        e re- instituir  uma realidade 
                        solidificada em cânones  interpretativos. Nada mais 
                        difícil que ultrapassar horizontes epistemológicos, 
                        caminhos trilhados apenas por quem não se conforma, não 
                        abdica da idéia da transformação, da mudança, 
                        da diversidade. O fazer história é mais 
                        do que nunca uma atividade política, recusando a repetição 
                        do mesmo, aquele murmúrio infindável 
                        de reafirmação da ordem,  de criação incessante de 
                        um mundo pensado de forma binária, conjugado 
                        no masculino, nas articulações de poder, 
                        nas economias gerais do saber, construtoras 
                        de hierarquias, diferenças  e desigualdades. 
                       Mas  que meandros criaram este momento 
                        profícuo de se fazer “ histórias”, num 
                        presente ainda de confrontações, onde 
                        alguns campos são “ mais históricos” que outros?
                                  
                        Foucault  sonhava 
                      “ [...]com intelectual destruidor das 
                        evidências e das universalidades, que localiza e indica 
                        nas inércias e coações do presente os 
                        pontos fracos, as brechas, as linhas de força; que sem 
                        cessar se desloca, não sabe exatamente 
                        onde estará ou o que pensará amanhã, por estar 
                        muito atento ao presente; que contribui, 
                        no lugar em que está, de passagem, a colocar 
                        a questão da revolução, se ela vale 
                        a pena ( quero dizer qual revolução e 
                        qual pena” (Foucault,1988:242)
                       
                       Para Foucault também 
                        estava claro, somente quem aceitasse 
                        arriscar a vida, poderia falar 
                        de revolução. Não me refiro aqui a revoluções armadas 
                        ou terrorismos, a uma inversão simplória de poderes – 
                        falo de revoluções epistemológicas, da criação de condições 
                        de imaginação para uma transformação 
                        das relações humanas, para além  
                        de um binarismo simplificador, cuja aparente evidência 
                        em opostos complementares, mas diferentes, arquiteta 
                        toda uma economia humana traçada em linhas de poder 
                        e força.
                       As feministas em geral vivenciaram 
                        este desafio em seu desejo de mudanças, 
                        e  transformação das relações sociais pode ser 
                        o único ponto em comum entre a pluralidade 
                        dos movimentos e correntes militantes e teóricas feministas, 
                        pois assim se nomeando arriscaram e arriscam 
                         suas reputações, suas carreiras, seu lugar de fala, 
                        seus amores. Cherrie Moraga, chicana, 
                        crítica de um feminismo branco e pretensamente hegemônico 
                        falava de feminismo como “teoria da carne”, a que  
                        arranha e  machuca ao anunciar transformações, 
                        apontando para um comprometimento incontornável 
                        com o político, na prática dos feminismos. 
                         
                       Em termos de uma concepção tradicional 
                        de ciência, ou seja, um discurso produtor de verdades 
                        sobre o mundo, os saberes só caminham  em linha ascendente, 
                        do simples para o complexo, do primitivo 
                        para o civilizado, num continuum ininterrupto.  
                        A ciência seria portanto, O  saber, 
                        aquele que detém a chave explicativa da natureza, do social, 
                        do humano. Como bem sublinha Foucault,
                      « Não reconhecendo na ciência senão 
                        o acúmulo linear de verdades ou a ortogenese 
                        da razão, não reconhecendo nela uma prática 
                        discursiva que tem seus níveis, suas bordas , suas rupturas 
                        diversas, não podemos descrever senão 
                        uma só divisão histórica, cujo modelo 
                        é reconduzida sem cessar ao longo do 
                        tempo para qualquer forma 
                        de saber : a divisão 
                        entre o que  não é ainda científico e o que o é definitivamente. 
                        Toda a espessura das interrupções, toda dispersão das 
                        rupturas, todo desnível de seus efeitos e o jogo de sua 
                        interdependência encontram-se reduzidos ao ato monótono 
                        de uma fundação que é preciso sempre repetir.” 
                         ( Foucault, 1969: 245, 246) “
                      De certa forma, a ciência 
                        seria o discurso substituto do dogma religioso, baseando-se 
                        no mesmo sistema de crenças, onde os pressuposto axiomáticos 
                        substituem os dogmas, onde a autoridade 
                        do cientista supera a do sacerdote. 
                      O sistema é similar: a enunciação de verdades, 
                        cujo fundamento enunciativo se sustenta no lugar de fala 
                        de uma autoridade instituída, com caráter 
                        universal e incontestável; os efeitos 
                        políticos deste poderio discursivo tornam-se maiores, 
                        na medida em que a construção social 
                        e histórica destes enunciados desaparece, para 
                        dar lugar à força simbólica da própria 
                        enunciação.
                      O discurso, esta prática 
                        modeladora de significados no social e no político é , 
                        portanto, força que engendra a percepção do real, ou seja, 
                        aquilo que interpretamos como real é o que toma forma 
                        e sentido na nossa rede de percepção, em nossas condições 
                        de imaginação, recortadas por “verdades” circulantes em 
                        discursos científico-religiosos, que Foucault nomeia “ 
                        regime de verdade”.
                      Esta imaginação esteve sempre presente 
                        nas elaborações e analises das ciências físicas e sociais, 
                         vestidas, entretanto, do manto da verdade 
                        e da autoridade oriundas da univocidade 
                        do “racional” como expressão do real, livro a ser 
                        decifrado pela ciência. .
                      Os feminismos e Foucault, em suas imbricações 
                        e eventuais desencontros foram marcos para 
                        a mudança nas perspectivas 
                        de se pensar e de se fazer 
                        história e ciência, apontando para suas 
                        condições de produção, compostas de todo 
                        um aparato simbólico / político, discursivo e não discursivo. 
                      
                      Foucault, neste caso, exerce a função 
                        de autor, como ele mesmo define, precipitando, no sentido 
                        químico da palavra, o magma borbulhante das significações 
                        sociais,  como “ [...]o indivíduo que se põe a escrever 
                        um texto no horizonte do qual ronda uma obra possível” 
                        (Foucault, 1971:10) expondo as heterotopias discursivas  
                        do século XX,  no sentido “ das formas 
                       
                      «  que 
                        inquietam, pois minam secretamente a 
                        linguagem, [...] pois quebram os nomes 
                        comuns ou os entrelaçam,  arruínam de imediato a 
                        “sintaxe” e não apenas a que constrói 
                        as frases, mas aquela, menos evidente, que “mantém juntas” 
                        [...]as palavras e as coisas. ( Foucault, 1966:.10)  
                      Nesta ótica, os feminismos contemporâneos 
                        são expressão desta heterotopias, quebrando as palavras 
                        e abrindo-as às suas significações políticas De fato, 
                        se tomamos o Segundo  Sexo de Simone 
                        de Beauvoir, escrito em 1945 como a eclosão da visibilidade 
                        dos saberes engendrados pelas mulheres e pelos feminismos, 
                        adentramos  uma perspectiva genealógica, na qual 
                        se contempla um dos  momentos em que as “palavras 
                        e as coisas” se desfazem de sua univocidade fictícia e 
                        em que “mulher” deixa de significar o 
                        “outro” do humano para reivindicar 
                         sua posição de agente histórico e político, de sujeito, 
                        enfim.
                       Em que “mulher”, dotada de uma essência 
                        única e “ verdadeira”, desdobra-se em mulheres, seres 
                        localizados em suas especificidades e experiências múltiplas. 
                        Betty Friedan, (1964) em seu The Feminine Mystique 
                        , mostra, nos anos 50, a reconstrução da “verdadeira” 
                        mulher no pós-guerra, em diferentes práticas de assujeitamento 
                        e convencimento. A construção da diferença, 
                        na ciência e nas práticas sociais, aí já estão explicitadas; 
                        podemos apontar, por exemplo, na descontinuidade, 
                        de  Virginia Wolf , no início do século XX ou Nísia 
                        Floresta,  que já no século XIX em sua função de 
                        tradutora desfazia a noção de “fidelidade” ao sentido 
                        prescrito pelo autor,  anunciando 
                        a co-enunciação entre receptores e autores, ou ainda Margareth 
                        Rago,[1] 
                        uma das primeiras historiadoras da atualidade que ousou 
                        nomear-se feminista, em suas obras de importância incontornável..
                       Assim, a eclosão de saberes não se 
                        dá em um ponto específico do tempo apenas; 
                        é um movimento, que acompanha a dinâmica da vida social 
                        e se contrapõe às pretensas  hegemonias ao reivindicar 
                        existência, voz, práticas instauradoras das diversidade. 
                        Vários foram, portanto,  os momentos de  desnaturalização 
                        das relações humanas baseadas em uma essência biologia, 
                        anunciados por incontáveis vozes femininas, desvelando-se 
                        as práticas políticas de exclusão e de dominação nela 
                        fundamentada. 
                       Destruir as evidencias, 
                        propunha Foucault.  A  natureza sexuada  do 
                        humano, divididos em opostos, hierarquizados segundo sua 
                        essência, esta dotada de razão e de criatividade,  aquela 
                        de uma vaga intuição e de uma passividade 
                        receptora foi  a evidencia maior descontruída pelos 
                        feminismos.
                       Este idéia, disseminada em diferentes 
                        práticas discursivas, entre as quais as ciências, como 
                        bem explicita Gayle Rubin( 1975), instituiu 
                        a norma do humano conjugado no masculino, articulado em 
                        hierarquia, reiterado pelos discursos 
                        mais variados, criando, de fato, a desigualdade política 
                        ao instaurar uma diferença. Esta autora 
                        discute alguns pressupostos de  Freud e Lévy-Strauss, 
                        apontando  como suas elaborações teóricas de pretensão 
                        universal  repousam sobre  
                        construções e distinções  de gênero, apresentadas 
                        como evidentes e naturais, como a troca de mulheres, ou 
                        a inveja do pênis e 
                        a sexualidade como eixo e essência do humano e suas relações; 
                        esta evidencia da “ natureza humana”, repousa, entretanto, 
                        apenas em sua própria enunciação e engendra o  sistema 
                        ao enunciá-lo.. Como diriam os positivistas: é porque 
                        é.
                       
                        Monique Wittig, por sua vez indaga :
                        «  quem deu aos psicanalistas 
                        seu  saber ? Por exemplo,  
                        para Lacan, o que chama de ´discurso psicanalítico 
                         ‘ a experiência analítica´ ambos “ lhe ensinam” 
                        o que ele sabe. E cada um ensina-lhe o que o outro lhe 
                        ensinou (Wittig, février 1980 :47)
                       
                      Foucault é um dos  arauto 
                        desta percepção, pois  comenta que 
                        “
                       
                      “Se os dos grandes vencidos destes últimos 
                        quinze anos são o marxismo e a psicanálise, é porque tinham 
                        uma parte muito ligada, não à classe 
                        no poder, mas aos mecanismos do poder. 
                        “ (Foucault, 1970-1975 :724)
                       
                                  
                        A ciência trabalha, portanto,  com representações 
                        generizadas, representações sociais que são premissas  
                        “indiscutíveis” de suas análises, como mostram as feministas 
                        nos mais diversos campos do saber. Emily 
                        Martin, por exemplo, aponta   nos discursos 
                        sobre a concepção humana, os papéis do óvulo ( passivo, 
                        inerte, receptor) e os espermatozóides em plena ação, 
                        a reprodução, ipsis literis, das representações 
                        sociais sobre o feminino e o masculino.  Anne Fausto-Sterling 
                        expõe as representações binárias e a imagem da “verdadeira” 
                        mulher contidas nos enunciados médicos sobre a menopausa 
                        ou a famosa “ tensão pré-menstrual”, que reinstituem na 
                        atualidade as imagens do feminino, doente 
                        de seu corpo e presa de seus hormônios, 
                        que lhe dá e lhe retira seu lugar no social, na cotação 
                        da bolsa de valores da sedução da procriação.( 
                        Sterling,1999)
                      A filosofia, como analisa Genevieve Fraisse 
                        (1995), não cessa de re-instaurar esta natureza de duas 
                        formas: por um lado,  utilizando sem cessar 
                        metáforas sexuadas e hierarquizadas, que sublinham o valor 
                        do viril e do masculino e  por outro , recusando-se 
                        a pensar  as instaurações políticas 
                        de gênero, pois já que “naturais”, não 
                        apresentam interesse para análise. Assim, 
                        por exemplo, a existência de esferas  públicas e 
                         privadas no social são tomadas como axiomas, baseadas 
                        na diferença “natural” entre os sexos;  Carole Pateman 
                        (1993), porém,  . analisa com brilho a genealogia 
                        destas categorias, a priori histórico de muitos 
                        trabalhos e teses.  
                      A apropriação simbólica 
                        e material dos corpos e do trabalho das 
                        mulheres, explicitada por  Colette Guillaumin,(1978) 
                        a noção de patriarcado como sistema , como mecanismo 
                        de poder e de instituição do real, imbricado 
                        ao capitalismo mas a ele não redutível , como explicita 
                        Christine Delphy (1970) com a categoria “modo de produção 
                        doméstico”, são obras feministas descontrutoras de realidades 
                        criadas e cristalizadas pelas ciências e pelas práticas 
                        socais.
                       No fim dos anos 1970, a reflexão 
                        de Monique Wittig contribui a criar 
                        o solo sobre o qual se apoio a crítica 
                        pós-moderna de todas as evidencias e de todos os naturalismos.  
                        Nomeia “ pensée straight’ o quadro de pensamento binário 
                        e heterossexual e esta categoria exprime de forma 
                        densa a íntima relação entre o pensamento e suas condições 
                        de produção, pois pensar, 
                        é também pensar historicamente, um ato 
                        ancorado em um horizonte possível de interpretações e 
                        de interpelações.  A “pensée straight » para 
                        esta autora, é assim o fundamento de todas as naturalizações 
                        e evidencias, escondendo sua construção 
                        histórica sob o universal de um humano, 
                        inventado segundo normas e valores locais e temporais. 
                         Wittig explicita:
                       “ Não posso senão sublinhar 
                        o caráter opressivo que reveste a “ pénsée straight” em 
                        sua tendência a imediatamente universalizar 
                        sua produção de conceitos, a formar 
                        leis gerais que valem para todas as sociedades, 
                        todas as épocas, todos os indivíduos” (février 1980 :49 
                        )
                      A  « pensée straight » é, 
                        portanto, um quadro de pensamento histórico, cujos conceitos 
                        criam uma certa realidade e a inauguram 
                        como fundadora do humano em uma iteração incessante. Desta 
                        forma, não é suficiente desnaturalizar 
                        o natural, mas, sobretudo mostrar 
                        os mecanismos históricos, materiais, simbólicos, imaginários, 
                        que criam as relações sociais e a própria realidade. 
                      
                      Os feminismos tem sido, assim,  ponta 
                        de lança para a crítica da ciência , 
                        das verdades instituídas, dos valores transformados em 
                        leis, apontando para a historicidade 
                        absoluta do humano e dos sentidos criados em práticas 
                        discursivas, marcadas de tempo e de espaço e por elas 
                        universalizadas. Fala-se inclusive de 
                        “ o feminismo”, ignorando a pluralidade e a riqueza 
                        das análises produzidas em milhares de textos, marcando 
                        a produção do conhecimento no feminino 
                        da mesma essência única que se atribui às mulheres. De 
                        fato “ o homem” designa o universal, 
                        o humano, “os homens”, as suas divisões individuais; a 
                        “ mulher” aponta para uma espécie do 
                        humano, o “outro”, e “as mulheres” apenas o quantitativo. 
                         
                      A ausência das análises e da epistemologia 
                        feminista atuais da academia e da economia do saber 
                        institucional, o anonimato da intensa produção 
                        feminista em todos os campos do conhecimento,  demonstra 
                        de maneira clara a falácia  histórica da  construção 
                        dos saberes:  historiadores do futuro poderiam afirmar, 
                        a partir dos compêndios acadêmicos e 
                        dos programas dos cursos universitários, que as mulheres  
                        não participavam da  produção do 
                        saber, como vem fazendo a história em 
                        suas narrativas tradicionais.  E como costumo afirmar, 
                        “ o que a história não diz, não existiu”. 
                      Falando da educação Foucault comenta que  
                      
                      “ ´[...]ela segue, em sua distribuição, 
                        no que permite e no que impede, as oposições e as lutas 
                        sociais Todo sistema de educação é uma maneira política 
                        de manter ou de modificar 
                        a apropriação dos discursos, com os saberes 
                        e os poderes que carregam com eles.” (Foucault, 1971:46)
                       Ignorar a produção 
                        feminista do saber é tentar 
                        manter uma ordem discursiva androcêntrica. 
                        .Até o advento da “história das mulheres” tudo se passava 
                        na narrativa histórica como se elas fossem invisíveis 
                        participantes das relações sociais, matrizes, objetos 
                        de troca e de uso, parte dos móveis e utensílios necessários, 
                        porém estáticos,a receptivos, passivos. A própria história 
                        das mulheres, em algumas vertentes, padece dos limites 
                        do quadro binário de pensamento, apontando para 
                        as mulheres , na história, apenas em seus papéis tradicionais 
                        , dentro de seu “ destino biológico” 
                        .
                       Em seu questionamento 
                        sobre a instituição dos corpos sexuados e seus corolários 
                        de atributos e características sociais, os feminismos 
                        solaparam, assim, a base arenosa da evidencia considerada 
                        a mais clara e incontestável: a divisão 
                        biológica do humano em feminino e masculino e este destino 
                        biológico procriativo, atribuído às mulheres, aí nomeadas 
                        “ a mulher”.
                       Desta forma, considero 
                        que os feminismos, em seus desdobramentos diversos , abalando 
                        as certezas ancoradas no que seria o mais sólido, a natureza, 
                        criaram o solo para a crítica sistemática 
                        das verdades científicas, no que se configurou o chamado 
                        pós-modernismo. Trabalhando a noção de “diferença 
                        dos  sexos”, os feminismos apontam para 
                        a construção política de modelos humanos 
                        cuja base, o sexo e a sexualidade, são a parte que passa 
                        a representar o todo, arbitrariamente. 
                      
                      Se no vórtice das desigualdades, as raças 
                        se definiram pelas características externas da pele e 
                        dos traços, derramando-se em arcabouços culturais ou fenótipos 
                        ditos  “ primitivos” ,no caso dos sexos, feminino 
                        / masculino, a naturalização de uma diferença construída 
                        alicerça, na exterioridade genital, características internas 
                        apontadas como inatas, como constitutivas da identidade 
                        primária do humano. 
                      A desigualdade de gênero precede a de raça 
                        na ordem do discurso, pois se é mulher 
                        ou homem antes de ser branco, negro ou 
                        amarelo, azul ou roxo. 
                        No ápice das desigualdades se é, portanto, 
                         mulher, negra,  lésbica, pobre, 
                        gorda, velha, feia,  etc., numa escala que parte 
                        do “ natural”, da norma,  para as 
                        diferentes formas de “ diferença”.
                       Igualdade  e diferença são categorias 
                        de extrema atualidade nas ciências sociais, cuja imbricação 
                        é uma expressiva elisão  do binômio  identidade 
                        / diferença, como bem explicita a filósofa 
                        Géneviève Fraisse; (1995)  De fato, o par de igualdade 
                        é desigualdade , esta última enquanto resultado de uma 
                        política da diferença. Uma desigualdade instaurada no 
                        político, como fundamental na taxionomia 
                        do humano, é enraizada, assim,  na noção de diferença 
                         entre o feminino e o masculino; esta categoria ancora-se 
                        na noção de “natural”, que toma uma parte do humano- seu 
                        aparelho genital- como sendo a expressão de sua totalidade. 
                        O valor social que cimenta esta divisão 
                        binária é a reprodução, traduzida em heterossexualidade 
                        compulsória, como afirmam Monique Wittig( 1980) e Adrienne 
                        Rich (1980), entre outras.
                      Ao mesmo tempo, atrela à “ natureza” uma 
                        série de características socialmente construídas, criando 
                        uma escala binária de atributos, cujo pólo positivo encontra-se 
                        fixado no masculino.Porém, só existem diferenças lá onde 
                        se estabelece um referente e a “ diferença” dos sexos 
                        aponta apenas para uma construção 
                        social de um parâmetro corpóreo, fundamento de hierarquias. 
                      
                      O referente assim, é modelo 
                        desdobrado em homem, branco, ocidental, jovem, de posses, 
                        origem de uma cascata de desigualdades; classificou-se 
                        enquanto “outro” todas /os que não se adequassem ao perfil 
                        do referente. A igualdade na  diferença, 
                        a meu ver, é uma expressão antinômica, 
                        já que é a própria noção e instituição de diferença 
                        que cria a desigualdade entre os seres. Quando esta diferença 
                        é apresentada como “ natural”, sua construção 
                        social desaparece da ordem do discurso e ancora crenças 
                        e tradições que organizam o feminino e o masculino em 
                        outro binômio:  inferior / superior, instituídas 
                        em sistemas de dominação. Foucault explicita o que entende 
                        por dominação: 
                       
                      « [...] 
                        nas relações humanas, há todo um feixe de relações de 
                        poder, que podem se exercer 
                        entre os indivíduos, no seio de uma família, em uma relação 
                        pedagógica, no corpo político. Esta análise das relações 
                        de poder constitui um campo extremamente 
                        complexo. Encontra, às vezes, o que podemos chamar 
                        fatos, ou estados de dominação, nos quais as relações 
                        de poder, em lugar de serem móveis e 
                        de permitir aos diferentes parceiros 
                        uma estratégia que as modifique, encontram-se bloqueadas 
                        e fixas. Quando um individuo ou um grupo social consegue 
                        bloquear um campo de relações de poder, 
                        a torná-las imóveis e fixas e a impedir 
                        uma reversibilidade do movimento [...] estamos diante 
                        do que se pode chamar de estado de dominação 
                        (Foucault, 1980-1988:  710/711)
                       
                      A naturalização das relações entre o feminino 
                        e o masculino criam este tipo de “ estado de dominação”. 
                        As desigualdades encontram-se , deste modo,  fundadas 
                        num discurso de “evidência”, ocultando-se , desta forma,  
                        que a própria idéia de diferença  pressupõe 
                        todo um aparato valorativo, onde o sexo biológico é tomado 
                        como parâmetro principal na classificação 
                        do humano. 
                      As epistemologias feministas e os movimentos 
                        de mulheres são expressão de práticas de liberdade e de 
                        liberação; em alguns países os estados de dominação são 
                        quase herméticos, mas mesmo assim é possível trabalhar 
                        ass fissuras no sistema; em outros, mais permeáveis, como 
                        os ocidentais, a dominação se faz, não pela força, mas 
                        pela repetição, pela educação, pela religião, por assujeitamentos 
                        diversos que flexionam as auto-representações nos quadros 
                        binários habituais. Dos discursos midiáticos à atividade 
                        legislativa, os corpos das mulheres são criados enquanto 
                        sexuados, apropriados, destinados à procriação e à sedução, 
                        como bem explana Susan Bordo (labrys 
                        4, 2003)
                      O referente é o masculino, o sujeito 
                        que exige, para compor 
                        sua identidade , a existência de um outro desigual, feito 
                        de oposição, de uma suposta complementaridade, que apenas 
                        acentua a disparidade entre o feminino e o masculino nas 
                        práticas políticas, em seu sentido mais amplo. De fato 
                        a “igualdade” hoje, para as mulheres 
                        significa dupla ou tripla jornada de trabalho, 
                        salários inferiores para tarefas iguais, 
                        ínfima representação política, e corpos submetidos a uma 
                        violência social naturalizada, como a doméstica ou a prostituição, 
                        a pedofilia. E  a luta pela igualdade se faz sob 
                        o signo da diferença, solo construído 
                        sobre o qual se instauram as assimetrias e as desigualdades 
                        sociais. 
                      Neste sentido, os feminismos se pluralizam, 
                        em diversos graus de comprometimento com os quadros de 
                        pensamento habituais, como o binarismo explicitado na 
                        expressão sexo/ gênero, ou o diálogo com narrativas universalizantes, 
                        como a psicanálise , presas de condições de inteligibilidade 
                        coercitivas. Os feminismos vem fazendo teorias, porém, 
                        não como  quadros de pensamento rígidos, modelares, 
                        substitutivos; os feminismos, hoje, ao teorizar, 
                        fazem uma poética, como sublinha Linda Hutcheon, (1991: 
                        29-30) “aberta e em constante mutação”, enunciados  
                        provisórios, sem a ânsia das respostas e das definições, 
                        sem medo dos paradoxos, traçando heterotopias 
                        ao decodificar as artimanhas do poder 
                        sobre o simbólico / material do relacionamento humano.
                      Estaria  Foucault pensando nas feministas 
                        quando afirmou que:
                      “ papel do intelectual 
                        não é mais de se colocar um pouco antes 
                        ou um pouco de lado para dizer 
                        a verdade muda a todos; é ao contrário, 
                        lutar contra as formas de poder 
                        onde é ao mesmo tempo objeto e instrumento na ordem do 
                        “saber”, da “verdade”, 
                        da “consciência” , do “discurso”. É assim que a teoria 
                        não exprimirá, não traduzirá, não se aplicará à uma prática, 
                        ela é uma prática. Mas local e regional, 
                        nunca totalizadora. Luta contra o poder, 
                        luta para fazê-lo aparecer 
                        e estocá-lo, ali onde é o mais invisível e o mais insidioso. 
                        “ (Foucault,  1970-75: 308/309)
                       
                      Neste grande, imenso dispositivo da sexualidade 
                        identificado por Foucault , em que o sexo se torna o eixo 
                        da existência, da identidade , atraindo todos os olhares 
                        e investimentos individuais e sociais, não se pode esquecer 
                        que sua definição é , de início, binária: a heterossexualidade 
                        é portanto, a norma. Feministas como Monique Wittig e 
                        Adrienne Rich, nos anos 1970 identificam na heterossexualidade 
                        compulsória a prática social fundadora 
                        do “natural” da divisão binária dos sexos 
                        e de sua hierarquização. 
                      De fato, se Foucault expõe as tecnologias 
                        do sexo, fundadora dos corpos normatizados e disciplinados, 
                        mas seu discurso permanece generalizante . Diz ele:
                      “O poder seria essencialmente 
                        o que, ao sexo, dita sua lei. O que significa, antes de 
                        tudo, que o sexo se encontra colocado por ele em um sistema 
                        binário: lícito e ilícito, permitido 
                        e proibido. O que significa que o poder  
                        prescreve ao sexo uma “ordem”, que funciona ao mesmo tempo 
                        como forma de inteligibilidade: o sexo 
                        se decifra em relação à lei. [...] a tomada de poder 
                        sobre o sexo se faria pela linguagem ou melhor, por um 
                        ato de discurso, criando, ao ser articulado, 
                        um estado de direito. [...] a forma pura 
                        do poder, seria encontrada na função 
                        do legislador, e seu modo de ação seria, 
                        em relação ao sexo, do tipo jurídico- discursivo. (Foucault, 
                        1976:10)
                       
                      A sexualidade criada pela linguagem, em 
                        matrizes de inteligibilidade, a lei como materialização 
                        em normas, aqui é explicitada. Foucault vê também, nas 
                        tecnologias do sexo, a criação do “ sexo verdadeiro” 
                        e nisto está clara a oposição heterossexualidade 
                        / homossexualidade. Mas e a própria constituição 
                        da heterossexualidade?
                      Teresa de Lauretis ,( 1987) por sua vez, 
                        nos expõe as tecnologias de  gênero, 
                        que inventam corpos sexuados nos diferentes discursos 
                        sociais e lhes atribuem diferenças incontornáveis, em 
                        hierarquia e assimetria. 
                        De fato, o binarismo primário é o feminino - masculino 
                        , a construção da heterossexualidade 
                        e da norma em termos de natureza.  Neste sentido, 
                        antes de terem sexualidade, os corpos devem se tornar 
                        sexuados. 
                      As tecnologias do gênero compõem os corpos 
                        humanos em uma forma binária e neste 
                        sentido, como sublinha Judith Butler (1990), não existem 
                        gêneros fora de expressões de gênero, ou seja, é o social, 
                        com seus sentidos, valores e escolhas que define o sexo 
                        como prioritário nas expressões do humano. É assim, que 
                        para Butler, é o gênero que constrói 
                        o sexo, invertendo a proposição sexo 
                        / gênero, que deixa intacta e sem questionamento 
                        a naturalização da diferença.( Butler,1990) Desta forma, 
                        fica claro que a diferença entre os sexos é criação político 
                        - discursiva da economia binária dos gêneros “naturais”, 
                        cujo fundamento é a procriação. 
                       Como método, a crítica feminista da produção 
                        do conhecimento trabalha num constante re- significar 
                        de suas próprias proposições e tem como ponto 
                        de partido o que Sandra Harding chama de “objetividade 
                        forte “ (Harding, 1998) ou seja , a constante reflexão 
                        sobre as condições de produção do conhecimento, 
                        incluindo as suas próprias, explicitadas em saberes localizados 
                        e específicos, no tempo e no espaço.
                        Teresa de Lauretis sublinha a noção 
                        de experiência, incontornável para os 
                        feminismos, “ um complexo de efeitos significativos, de 
                        hábitos , disposições, associações e percepções”  
                        ( De Lauretis, 1987:.18) “ um processo 
                        pelo qual todos os seres sociais são 
                        construídos” ( 18)Localizando sua produção 
                        de saber e assentando-a na experiência, 
                        os feminismos escapam assim às generalizações abusivas 
                        , às características biológicas universalizantes com as 
                        quais se institui a representação DA mulher, inclusive 
                        em seus próprios discursos. 
                      De fato, quando a crítica feminista  
                        se anuncia, é o domínio do arquivo foucaultiano que se 
                        desvela, ou seja
                       
                       “[...] o conjunto de regras, que 
                        em uma dada época e para 
                        uma sociedade determinada, definem os 
                        limites e as formas do dizível [...] quais são os enunciados 
                        destinados a não deixar traço? Quais 
                        são destinados, ao contrário, a entrar 
                        na memória dos homens ( pela recitação ritual, a pedagogia, 
                        o ensino, a distração, ou a festa, a 
                        publicidade)? Quais são anotados para 
                        poder ser reutilizados 
                        e com que fins?[...](Foucault, 1954-1969:681)
                       
                      A história das mulheres tem aberto 
                        este arquivo, localizando em seus  silêncios e suas 
                        fissuras o espaço de ação do poder 
                        instituidor dos corpos sexuados em hierarquia, 
                        discursos recitados em ladainhas pela tecnologias do gênero. 
                      
                      Acrescenta Foucault, a respeito das perspectivas 
                        do arquivo:
                       
                      “Quais são os enunciados  reconhecidos 
                        como válidos ou discutíveis ou definitivamente invalidades? 
                        Quais os tipos de relações são estabelecidas entre o sistema 
                        de enunciados presentes e o corpus de enunciados passados?[...] 
                        Que indivíduos, que grupos, que classes tem acesso à que 
                        tipo de discurso?Como é institucionalizado a relação do 
                        discurso com aquele que o pronuncia, com aquele o recebe? 
                        Como se desenvolve, entre classes, nações, coletividades 
                        lingüísticas, culturais ou étnicas, a luta pela tomada 
                        dos discursos? (Foucault, 1954-1969: 682)
                       
                       Poderia ser aqui uma 
                        feminista falando da exclusão das mulheres da ordem do 
                        discurso acadêmico, político, social e a desqualificação 
                        da reflexão feminista no sistema de  apropriação 
                        social simbólico – discursiva. . 
                                  
                        A crítica feminista da realidade em que 
                        vivemos poderia ela mesma ser uma das 
                        heterotopias descritas por Foucault, entre aquela de crise 
                        e aquela do desvio: dentro da norma e em processo 
                        de ruptura, em crise e  fora da 
                        norma, lá  onde, como aponta Foucault, estão os indivíduos 
                        cujo comportamento é desviante em relação à média 
                        ou à norma exigida”.( Foucault, 1980-1988: 757) Este é 
                        o sujeito feminista, nomeado eccentric 
                        subject por Teresa de Lauretis, dentro de suas condições 
                        de produção e de sua experiência designada 
                        enquanto mulher ; fora delas, ao indicar 
                        as linhas de força e de poder que constituem 
                        o humano em corpos sexuados.(De Lauretis, 1990)
                      E a história, afinal? A história encontra-se 
                        valorizada enquanto disciplina, já que todas as outras 
                        reconhecem, em maior ou menor grau, a incontornável historicidade 
                        de suas proposições. Enquanto historiadoras feministas, 
                        procuramos não o ecoar monótono 
                        da repetição do mesmo, mas as vibrações  dos acordes 
                        múltiplos de uma história possível, instauradora de diversidade, 
                        não da diferença.
                       
                      *Este 
                        texto foi apresentado em mesa redonda no encontro " 
                        O legado de Foucault", UNESP/ Araraquara, agosto 
                        2004. 
                       Referências
                      Butler, Judith, 1990. Gender trouble. 
                        Feminism and the Subversion of Identity , New York : 
                        Routledge.
                       De Lauretis, Teresa (1987) Technologies 
                        of gender.  Essays on Theory, Film, and Fiction., 
                         Bloomington and Indianapolis, Indiana University 
                        Press
                       
                        De Lauretis, Teresa. 1990. « Eccentric subjects : 
                        feminist theory and historical consciousness ».  Feminist 
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                        p. 115-150.
                       Delphy, Christine.(1970) « L´ennemi 
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                        Paris, vol. 54-55. pp.157-172
                       Descarries, Francine Labrys,  
                        estudos  feministas n.3  
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                       Martin, Emily. 1999. The egg and the 
                        Sperm: How Scince has Construct a Romance Based on Stereotypical 
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                        du savoir, Paris, Gallimard
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                        du discours, Paris, Gallimard 
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                        sexualité, la volonté de savoir, Paris, Gallimard
                      Foucault, Michel. 1954-1969 . Dits et 
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                        choses, Paris, Gallimard 
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                        écrits IV, Paris, Gallimard 
                      Foucault, Michel. 1988, Microfísica do 
                        poder, Rio de Janeiro, 
                        Graal
                      Fraisse, Geneviève. 1995. Entre égalité 
                        et liberté. In La place des femmes, les enjeux de l´identité 
                        et de l´égalite au regard des sciences sociales,  Ephesia 
                        Paris, La découverte
                      Friedan, Betty.1964. La femme mystifiée, 
                        Paris, Gonthier ( original em inglês 
                        de 1963)
                       
                        Guillaumin, Colette 1978. Pratique du pouvoir et idée 
                        de Nature, 2.Le discours de la Nature, Questions féministes,no3, 
                        mai, p.5-28. 
                      Harding, Sandra. 1998 Is Science multi-cultural ? 
                        Bloomington and Indianapolis, Indiana University Press
                      Hutcheon, Linda.1991. Poética do Pós-modernismo, 
                        Rio de Janeiro, Imago.
                      Pateman, Carole.1993. O  contrato 
                         sexual, São Paulo, Paz e terra.           
                                         
                      Rich, Adrienne .1981) La contrainte à 
                        l'hétérosexualité et l'existence lesbienne, Nouvelles 
                        Questions Féministes, Ed. Tierce, mars , n01, 
                        p.15-43
                       Shildrick,Margrit  1999, Breaking 
                        the boundaries of the broken body in Shildrick,Margrit 
                        an Price, Janet . Feminist theory and the body, 
                        New York, Routledge.p. 432-444
                      Sterling, Anne Fausto. 1999. “ Menopause: 
                        the storm before the calm” in in Shildrick,Margrit an 
                        Price, Janet . Feminist theory and the body, New 
                        York, Routledge, p, 169-178
                      Wittig, Monique  (1980) La pensée 
                        straight. Questions Féministes, Paris, Ed. Tierce, 
                        février,  n.7.
                       
                       
                           
                        
                          
                          [1] Ver, por exemplo, livros de 
                          sua autoria como O  que é Taylorismo? 
                          ,Brasiliense,1984; Do  Cabaré ao  Lar. 
                          A  utopia da  cidade  disciplinar, 
                          Paz e Terra,1985; Os  Prazeres 
                          da  Noite.Prostituição 
                          e  Códigos da  Sexualidade  Feminina 
                           em  São Paulo,  Paz e Terra,1989; 
                          Narrar o  Passado, 
                           Repensar a  História, 
                          com Renato Aloisio Gimenes ,Unicamp,2000 e Entre 
                          a  História e a  Liberdade. Luce Fabbri 
                          e o  Anarquismo  Contemporâneo, 
                          ED.da Unesp, 2001.