As gouines rouges- o terror do patriarcado
"As gouines rouges. Glorioso grupo de amantes que vivem na Gaule e que descobriram o pó de pirilipimpim e se chamaram gouines rubras por pura modéstia. As contadoras de fábulas dizem que elas tinham o hábito de pintar as mãos e os rostos de vermelho. (Monique Wittig)"
As gouines rouges foram um grupo de lesbianas dentro do MLF, movimento de liberação das mulheres, em 1971, em Paris. O que a história não diz, nunca existiu frase que sempre digo. « existe a história, depois a história verdadeira, em seguida a história tal como foi contada. E depois o que resta fora da história. Isto faz também parte da historia. » (Margaret Atwood,) A narrativa histórica depende das escolhas dos historiadores, de suas condições de imaginação, do interesse social em explorar certas temáticas. Na verdade, os fatos são criados por eventos destacados aqui e ali de forma arbitrária, que compõem uma narrativa histórica, dotada de uma certa coerência. Se a história patriarcal esquece, apaga, nega as mulheres e sua importância no social, o que dizer das relações entre mulheres, que recusam a dominação e a pregnância do masculino ? A possibilidade mesmo da existência de mulheres entre elas, como as Amazonas, foi levada ao domínio do mito, da fantasia, do impensável. Mas os traços estão lá, para quem quer encontrá-los. A história, portanto, entre outros saberes, é o imaginário patriarcal em ação, já que organiza, seleciona as temáticas, cria os fatos, obedece às normas que fundamentam os discursos do saber. A história assim cria o solo sobre o qual se apoia para assegurar a verdade de seu discurso. Estamos na Babilônia, elas eram chamadas Salzikrum no Código de Hamurabi, (1770 BC), mulheres que tinham todos os direitos civis e políticos, entre eles o de liberdade sexual. Era um status que reproduzia certamente o das sacerdotisas de Sumer, as mais altas autoridades na cidade de Uruk. Que currículo fala da Babilônia? A história do Ocidente começa na Grécia antiga. Estamos agora no Brasil, século XVI. Segundo os cronistas da época, as índias de várias tribos, decidiam livremente do papel social e sexual que preferissem. A homossexualidade fazia, aliás, parte integrante dos costumes das tribos, sem nenhuma espécie de exclusão. Diz Gandavo : « Elas abandonavam o mundo das mulheres e ficavam com os homens em todas suas atividades, como se elas não fossem mulheres. Elas cortavam os cabelos como os machos e iam à guerra armadas de arco e flechas, iam à caça sempre na companhia dos homens e cada uma delas tinha uma mulher para serví-la e elas dizem que são assim casadas e tem relações íntimas como marido e mulher (Gandavo. 1964: 56-57) O pênis aí não é um elemento de divisão social e do trabalho, como em todas as sociedades patriarcais. A iconografia antiga do subcontinente indiano expõe costumes sexuais entre os quais o das relações entre mulheres, em grande número. As Amazonas das narrativas gregas foram arremessadas para o abismo dos mitos, já que recusavam a heterossexualidade obrigatória ; no Brasil, a existência das Amazonas rejeitando o masculino de seu meio foi largamente descritas pelos colonizadores do século XVI ; estas narrativas, porém, acabaram sendo recusadas pelos historiadores pela mesma razão. Impossível a existência das Amazonas? Impossível por que e quando? O caminho apontado por Foucault (1971: 53) da destruição das evidências encontra seu paralelo na destruição das impossibilidades. Por isto mesmo proponho a história do possível, o que pode ter sido, urdida no auscultar do real. A história cria seu objeto e controla a produção de seus discursos em torno do masculino e seus feitos. Diz Foucault « [...] cada disciplina [...] reconhece proposições verdadeiras e falsas; mas empurra do outro lado de suas margens, toda uma teratologia do saber. » (Foucault, 1971 :35) As mulheres e as relações entre elas pertencem a esta imensa zona de exclusão das narrativas históricas. É preciso, portanto auscultar os silêncios da história: o possível e o impossível se encontram assim redesenhados em seu grande tear aoqual nos submetemos. O imprevisto se revela nos desenhos rupestres encontrados por Niède Guidon (Navarro Swain, 2011-2012 ) no Piauí, nordeste do Brasil, antigos de milhares de anos, oferecendo, entre outras, a imagem desenhada com toda delicadeza de um beijo entre mulheres. Mas não busco origens, pois as relações humanas estão todas no terreno de imprevisível. Do impossível, no entender do patriarcado. Aliás, a maldição de Eva, que buscava Lilith, foi a de só encontrar Adão. Falar de Safo como uma exceção, por exemplo, não é senão uma manobra para ancorar a heterossexualidade como natural. Tudo se passa como se a narrativa da história fosse o reflexo real do verdadeiro nas relações humanas. Esta narrativa, porém, é fruto das escolhas dos historiadores e das condições de imaginação de sua época. O verdadeiro das relações societais, porém, encontra-se no possível que cobre 40 mil anos do passado humano. A heteronormatividade baseada na natureza é uma criação patriarcal surgida em uma temporalidade dada, que define os papéis a partir do sexo e da procriação, segundo a vontade de poder masculina. A tarefa patriarcal, para manter este poder, foi e ainda é apagar toda escapatória possível à norma do « natural », criada inteiramente pelas narrativas religiosas, históricas, psicológicas. Sem poder eliminá-las completamente, foram apagadas do imaginário e das representações « normais » do humano: o amor entre mulheres é relegado ao ostracismo social, dos discursos da história, da sociologia, da antropologia. O perigo que elas representam para a dominação patriarcal torna-se o inominável, o impossível, o inexistente. Entretanto, quando não se podia negar sua presença, suas relações eram consideradas como pecados menores, desprezíveis, já que não havia a presença de um pênis. Os documentos da Inquisição no Brasil no século XVI, desvelados por Lygia Bellini (2004) mostram vários casos de lesbianismo, de mulheres que não escondiam suas relações, ao contrário. A historiadora revela que estes casos julgados pelos inquisidores não seguiram em frente, pois foram considerados sem nenhuma importância. Aliás, não havia nem mesmo uma denominação para os amores entre mulheres: estavam colocadas sob o signo da « sodomia », mas sem a carga nefasta desta relação entre homens, punida severamente pelas leis. Tão insignificantes, os amores entre as mulheres eram afastados de um revés de mão. Nesta perspectiva, entretanto, se escondia o medo do despertar do imaginário feminino que poderia perceber outro caminho que não fosse a incontornável relação heterossexual. Assim os discursos explodiram sobre o perigo do clitóris, sobre as tríbades que levavam as jovens aos caminhos tortuosos do vício e da libertinagem. Marie Jo Bonnet explica que o discurso sobre a patologia clitoridiana havia formulado seus fundamentos nos séculos XVII e XVIII. (Bonnet,1981 : 171-186) Cortar o mal pela raiz: a excisão ou a cauterização do clitóris eram aconselhadas, já que era o culpado de produzir o lesbianismo, a loucura, a histeria, a epilepsia, a catalepsia, etc. ( Bonnet, 1981 :175) O século XIX aplicou estes métodos como meio de conter as “doenças nervosas”. (idem, 175-177) Estamos agora no início do século XX, quando o tout-Paris, a nata parisiense estava encantada com Nathalie Barney, Djuna Barnes, Colette, Gertrude Stein arautos e poetas dos amores entre mulheres. No domínio do imaginário, as « garçonnes » mudaram a representação das mulheres, das lesbianas e animaram a vida social do início do século. Da dolorosa narrativa de Radcliff Hall, no livro o Poço da Solidão às alegres e libidinosas tertúlias das jovens mulheres, no Brasil de Cassandra Rios[1] a literatura discorreu sobre os encontros amorosos entre mulheres. Renée Vivien, Adrienne Rich, Elisabeth Bishop (amante da brasileira Lota Macedo Soares) bardos dos amores lesbianos transformaram as trilhas em caminhos fora da sombra, abertos à palavra. Neste sentidos, Virginia Wolff foi um farol ( sem jogo de palavras). Para não falar que das mais conhecidas. Simone de Beauvoir (1949/1978) musa do feminismo teve, entretanto, considerações sobre o lesbianismo em um discurso essencialista, binarista, contra a corrente de sua própria obra feminista. Se ela reconhece a construção social do feminino (idem: 487) vê nas tendências das adolescentes pelo amor lesbiano « [...] uma etapa, um aprendizado e aquela que se dedica com mais ardor pode ser amanhã a mais ardente das esposas, amantes, mães. ». (idem: 486) Mas para ela, existem casos onde « [...] feia, desgraciosa ou acreditando sê-lo, a mulher recusa um destino feminino para o qual não se sente dotada; [...] » (idem: 489). E continua: « Assim como a mulher frígida deseja o prazer recusando-o ao mesmo tempo, a lesbiana gostaria muitas vezes de ser uma mulher normal e completa, mesmo não o querendo » (idem: 492) » (idem: 509-510) Opinião decepcionante e desconcertante da parte de Simone de Beauvoir, que desentranhou a trama das representações sociais do femínino, tornando-se influência maior do feminismo contemporâneo. Monique Wittig , por sua vez, define deserto: « Deserto. Antigamente terra árida, extensão de areia. Atualmente todo lugar que não é habitado por lesbianas. De onde vem a expressão « ir ao deserto » (Wittig, 1976 :76) Quem são elas, as lesbianas? Guerrilheiras ? Lésbicas ? Gouines ? Monique Wittig toma a dianteira. Sua prosa se traduz em aventura, invenção, deslizando para outros horizontes. Ler Wittig preenche todos os vazios deixados pelo patriarcado. Em sua prosa tão inventiva, ela nos fala das Guerrilheiras que criaram o Feminário, que adoravam e cantavam seus corpos, seus pelos, seus clitóris, suas vulvas e identificaram, venceram o inimigo: « Elas dizem: eles te mantiveram a distancia, eles te seguraram, eles te erigiram, constituíram em uma diferença essencial. Elas dizem: eles te adoraram tal uma deusa, ou então te relegaram a seu serviço nos quintais domésticos. Elas dizem: isto fazendo, eles te arrastaram sempre na lama, com seus discursos. Elas dizem: com seus discursos eles te possuíram, violaram, tomaram, humilharam até o fastio. [...] Elas dizem: sim, são os mesmos opressores dominadores que escreveram as negras e as fêmeas, que são universalmente covardes, hipócritas, espertos, mentirosos, superficiais, glutões, pusilânimes.. » (Wittig, 1976: 147-148) E elas, as guerrilheiras, partem em guerra. Guerrilheiras. Amazonas. Gouines. Fortes, ferozes, autônomas. Elas recusam o status de « mulher » forjado na « diferença », sinônimo de inferioridade. O que pode ser mais ameaçador para o patriarcado? Para destruir a ideia mesmo de sua existência a Ordem do Pai apaga seus traços, destrói seus corpos – bruxas malditas- expulsa-as dos muros da Cidade, do imaginário, da realidade construída a golpes de maças, de porretes : as mulheres são capturadas, vendidas, trocadas, prostituídas, casadas pela força e violência. O estupro é um aprendizado para que enfim elas se decidam a « ser mulheres », submissas, dóceis. Monique Wittig afirma « uma lesbiana não é uma mulher » . Ela nomeia « pensée straight » o que engloba teorias, disciplinas, representações, ideologias, religiões e cria papéis sexuais e sexuados. Este tipo de pensamento institui leis « naturais » e « universais » que « [...] valeriam para todas as sociedades, todas as épocas, todos os indivíduos. » (Wittig, 1980: 49) A heterossexualidade gerencia esta seleção em função dos interesses da ordem dos três P : Pai, Pênis, Patriarcado. Tudo se passa como se a diversidade dos costumes nunca tenha existido. A história é a expressão mesmo da pensée straight. E o que a história não diz, nunca existiu neste sistema de verdade ordenado pelo patriarcado. A heterossexualidade é um sistema político, uma grade de dominação sob uma máscara com uma aura mística, ou « científica », que decide de maneira simplista e binária o que é normal / patológico, bem/ mal, bom/ mau e sobretudo superior / inferior. O patriarcado se constrói sobre estas bases e erige o homem branco como paradigma do humano. A hierarquia sexual é a chave do sistema patriarcal. A heterossexualidade obrigatória é assim considerada natural, « preferência sexual » das mulheres, inata, nunca questionada. (Rich, 1981 :17) Além da submissão, é preciso amar os carrascos. Rich questiona : «[...] porque a sobrevivência da espécie, os meios de fertilização e as relações afetivas / eróticas foram tão rigidamente identificadas umas às outras; e porque as coerções tão violentas foram julgadas necessárias para assegurar uma fidelidade e uma submissão totais, afetivas e eróticas aos homens. [...] Esta forças [...] vão da servidão física, literal, à ocultação e à distorção das escolhas possíveis. .(idem : 21) » Esta análise de Rich, publicada há 38 anos retém toda sua atualidade: « É bem possível que os homens temam, de fato, não que as mulheres lhes imponham seu apetite sexual, que elas queiram devorá-los ou asfixiá-los mas sim a possibilidade que elas sejam perfeitamente indiferentes a eles, que eles não tenham mais acesso a elas tanto sexual quanto economicamente [...]» (Rich, idem: 27) Era preciso identificar este perigo. Criar uma categoria: a sodomita, termo geral para a homossexualidade tornou-se « lésbica » para assim ser melhor excluída, banida, expurgada. Mas estamos ainda na história do Ocidente. Que sabemos sobre os amores e relações entre mulheres no Extremo Oriente, nas planícies da Europa central, nas ilhas do Pacífico, entre os povos de todos os tempos e lugares? Nada. A história não é senão um trapo rasgado e sujo pelo desejo de verdade patriarcal. De toda maneira, a história e a antropologia não se ocupam senão dos feitos ligados ao masculino. E nossos amores, para onde foram? Para os subterrâneos das boates, para os armários metafóricos que escondem a « vergonha » das famílias, o pecado maior de não respeitar o império do pênis. Para onde foram nossas Goudous, nome que resume em francês o « gosto doce que tenho de ti » ? (Wittig,1976: 111) Em nossos dias, as lesbianas se mostram, apesar das violências que podem sofrer no Ocidente e alhures. Mas elas são enquadradas pelos parâmetros patriarcais, os esponsais, festejados, vestidos brancos para as duas; de fato, imitam o « normal » para se fazer aceitar mais facilmente. A concepção, para as lesbianas é um modo de se introduzir na normalidade do esquema social, seguindo assim o « destino biológico » sob o signo da procriação. Ser relegada à sigla LGBT+ parece-me sem qualquer sentido, pois não há ligações, objetivos, propostas entre categorias tão díspares, senão um laço hipotético contra a heterossexualidade. Mesmo assim, pois estas denominações se fundam no sexo, a injunção maior do patriarcado, pois o controle do sexo e da sexualidade se faz a partir da « diferença ». Aceito tua diferença, é a frase que reinstala a referencia, a heterossexualidade. A tática atual dos homens para se imiscuir nos grupos feministas ou de lesbianas é dizer que se « sentem » mulheres, criando a figura dos « homens lésbicos » Neste sentido, Janice Raymond comenta : “Talvez o resumo desta incongruidade seja que os homens que se dizem lésbicas estejam agora reivindicando que tem pênis lesbianos ou como disse um transativista, um “lady stick”. As lésbicas que rejeitam esta hipótese são injuriadas como “transfóbicas”. (Raymond, 2015) Há aí um completo desacerto com as teorias feminista que desconstroem a essência « da mulher », um núcleo « natural » que comporia seu ser: não somente retornam com toda força essencialista do « ser mulher » como reforçam a sexualidade como eixo do humano. Muda-se o sexo social para recriar o Mesmo. Isto é, na ordem do sexo. Nada a ver com as perspectivas feministas que buscam desconstruir a ordem do sexo e da sexualidade enquanto identidade primária para transformar as relações sociais. Nada a ver com o feminismo que almeja transformar o mundo. Em lugar de imaginar o novo, o transitório, a experiência do possível, a « diferença » binária torna-se « diversidade » que reproduz a diferença ela mesma. E a sexualidade continua a ser o ponto nevrálgico da dominação patriarcal. Quem sou eu? ouve-se sempre esta questão ligada às práticas sexuais. A essência do indivíduo seria, portanto colocada entre as pernas E se dizer, se explicitar lesbiana faz parte de uma identidade que não é senão ficção. Que identidade é esta, composta de práticas sexuais? Não me interessam identidades, marcas, definições que limitam o ser. Não gosto da palavra « lésbica » que marca de fato uma categoria à parte do humano, a anormal no binarismo patriarcal. Em primeiro lugar, não existe a personagem « lésbica » fora do binarismo, assim como « mulher » é uma maneira de reduzir todo feminino a um só indivíduo, à diferença. Os seres são diferentes entre si, assim como « a lésbica » é uma categoria construída. O que é finalmente uma lésbica ?Aquela que ama as mulheres? ou que prefere o sexo entre mulheres ? Sexo e amor são associados necessariamente? Posso amar uma mulher sem que seu corpo desperte um desejo sexual? Prefiro o insulto tomado e reinventado – como a gouine, em francês- pois esta denominação abre para um sujeito político autônomo, independente, nem butch, nem dyke, nem femme, nem sapata, aquela que não tem necessidade de se mostrar ou de se esconder. Aquela que não adere aos casamentos gay pois não querem se inserir nos moldes do patriarcado. Aquela que recusa o destino biológico incontornável da maternidade, guerrilheiras de todas as lutas pela liberdade. Aquela que acolhe o erotismo, não a sexualidade como necessidade indenitária. A gouine, de fato, é também uma goudou: Aquela que sente o gosto doce de ti. As gouines não buscam uma identidade escondida no baixo ventre ou em uma essência inata. As práticas sexuais não a definem pois suas vidas não se resumem ao números de parceiras ou de atos sexuais obtidos durante a semana, o mês. As gouines não são lesbianas nem mulheres. Elas amam os mitos. Elas não têm mestres para seu pensamento. Elas recriam a história povoada de amazonas, de rainhas, de guerreiras de amantes, de reinos onde a diferença não se instalou. Elas pensam a diversidade no novo, no inédito, no imprevisível. Elas recusam as coerções identitárias. O masculino lhes é indiferente. Elas são o terror do patriarcado. As gouines se ruborizam de indignação, de revolta contra as leis e as coações patriarcais. Elas são sujeitos políticos. Elas não aceitam as imposições de costumes, de sentimentos, do sexo obrigatório. Elas preferem o erotismo, a amizade, o amor entre elas. Elas têm cúmplices às vezes, as feministas radicais, que também não aceitam as “acomodações razoáveis” na interação com o patriarcado, tais como a prostituição que se valorizou como “trabalho” para assim melhor servir o sexo masculino. Elas atraem as mulheres ainda mergulhadas na lama patriarcal para a descoberta do novo, o inesperado, os potes de ouro no final do arco íris. Sua tez reflete horizontes rubros. Quem são estas gouines rubras, nossas goudous- o gosto doce que tenho de ti- , nossos amores cúmplices, guerrilheiras contra toda norma, contra todas as cadeias, que resistem sem descanso, quebram as imagens e representações das lesbianas conformistas? Pouco importa, não busco identidades.. Elas não podem ser definidas, pois se reinventam todos os dias. Cito Wittig: “ Elas dizem que no ponto em que se encontram devem examinar o princípio que as guiava. Elas dizem que não precisam buscar forças nos símbolos. Elas dizem que o que são não pode ser compreendido a partir de agora. Elas dizem que é preciso cessar de exaltar as vulvas. Elas dizem que devem romper o último laço que as liga à uma cultura morta. Elas dizem que todo símbolo que exalta o corpo fragmentado é temporário, deve desaparecer. Antigamente foi assim. Elas, corpos íntegros, primevos, principais, avançam marchando juntas para um outro mundo.” (Wittig,1976 :102) As gouines rubras de nossos dias seriam elas o fruto de minha imaginação? Talvez sim. Ou talvez não. Quem sabe? . Bibliographie Bellini, Lygia. A coisa obscura: mulher, sodomia e inquisição no Brasil colonial. 2014, Salvador: Edufba. Bonnet, Marie-Jo. Un choix sans équivoque, 1981, Paris: Ed. Denoel / Gonthier de Beauvoir, Simone. Le deuxième sexe,1, Paris, 1978, Paris: Idées/Galimard Duby, Georges, Lardreau, Guy - Diálogos Sobre a Nova História, 1989 , Lisboa: Dom Quixote Foucault, Michel. L´ordre du discours. 1971. Paris: Gallimard Gandavo, Pero Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Tratado da terra do Brasil, 1964, SP: Ed. Obelisco, navarro swain, tania. Niède Guidon , archéologue: une aventure dans le temps http://www.labrys.net.br/labrys20/aventura/niedefr.htm Radclyffe Hall. The Well of Loneliness , 1928, London: Jonathan Cape Raymond, Janice. Radical Feminist activism in the 21st century, https://www.labrys.net.br/labrys27/radical/janice.htm Rich, Adrienne. La contrainte à l´hétérosexualité et l´existence lesbienne. Nouvelles Questions Féministes, Mars 1981, Paris: Éditions Tierce Weiss, Andrea. Paris était une femme, 1996: Anatolia Éditions Wittig, Monique. Les Guerrillères, 1976, Paris: Les Éditions de Minuit Wittig, Monique, Sande Zeig. Brouillon pour un dictionnaires des amantes, 1976, Paris : Grasset Wittig, Monique .La pensée straight. Questions Féministes, février 1980, Paris: Éditions Tierce [1] Escritora brasileira, autora de 50 livros sobre o lesbianismo, censurada ferozmente pela ditadura militar que queimou muitos de seus livros. |