O Feminismo acabou?

tania navarro swain

O novo avatar masculino contra o feminismo e a fixação em papéis de gênero é o “transativismo”, cujas ações são tipicamente masculinas: violência material e simbólica, invadindo o espaço das mulheres com virulência, até ameaças de morte para aquelas que não aceitam suas intrusões.

Sua intenção é impedir a palavra das mulheres, ataca-las, como aconteceu na Nova Zelandia com Kelly Jay Keen, feminista que se opõe justamente ao sequestro da palavra das mulheres pelos transativistas. Ela iria fazer um discurso no quadro do # LetWomenSepeak. Foi questionada durante 2h pela polícia aduaneira; tomar a palavra tornou-se caso judicial e de polícia.

O patriarcado de saias faz parte assim da grande aliança masculina contra as mulheres. Nova maneira de apaga-las é impedir ou tomar a palavra de quem questiona suas ações. Tudo se torna transfobia, acusações que transbordam em todos os sentidos: feminazi, gordofobia, putofobia e assim por diante. O medo se instala e mais uma vez as mulheres são suprimidas, caladas, forçadas a aceitar as demandas masculinas; se “eu me sinto mulher” devo obrigatoriamente ser aceito como tal.
A teoria feminista é descartada, sobre seus restos tripudiam as saias esvoaçantes cobrindo corpos masculinos, os rostos maquiados reproduzindo os mais ordinários estereótipos de gênero.

Nada aponta na direção da transformação do mundo, objetivo maior do feminismo; apenas destruir as mulheres no social e no biológico, costurando suas bocas, tentando a todo preço impedi-las de falar, de se expressar, espancando aquelas que ousam se levantar contra esta situação. As mulheres foram queimadas pelos homens sob pretexto de bruxaria, agora são incineradas simbolicamente por “transfobia”. Como se trata de movimentos contra as mulheres, a comunidade masculina se perfila, na mídia, na polícia, na justiça. Afinal, como ousam as mulheres recusarem homens, com saia ou sem saia?

Suas performances não fazem senão reavivar a divisão binária do social. Agora baseada no “sentimento”; contraditoriamente, afirmam a predominância do sexo na identificação tal como “pessoas com vulva”, “pessoas com útero”, descaracterizando a luta feminista para emergir da naturalização de papéis. Há também os “homens que menstruam”, ou seja, aquelas que fizeram opção para pertencer ao clã dominante. Ou seja, tudo gira novamente em torno do sexo/ sexualidade destroçando o feminismo e seus objetivos.

A profunda ignorância teórica dos transativistas não percebe ( ou não se importa) que o feminismo almejava desvincular o sexo do gênero social e não anular o biológico; mulher, neste sentido, tinha a significação de inferioridade na hierarquia social e era esta era a acepção ao separar sexo e gênero social. Desconstruir o “ser mulher” , portanto, não pretendia negar a biologia, e sim desassociar os papéis sociais do contorno biológico. Este objetivo, entretanto, foi transformado perversamente em sentimento, propiciando a invasão raivosa dos homens nos redutos femininos, apagando ao mesmo tempo, as lutas, as conquistas do feminismo.
É uma guinada teórica e prática, que destrói assim décadas de feminismo: agora o que vale é o anseio, “sinto-me mulher”, logo devo ser aceito com barba e bigode em todos os locais reservados às mulheres.

O “homem lésbico” vem exigindo sua aceitação e de seu pênis pelas lésbicas, ou então são taxadas de “transfóbicas”. Assim, podem simplesmente violentar, agarrar, socar, marcar mulheres que não os aceitam em seu meio com toda sua virulência masculina. Novo talibã no Ocidente. Um pênis é um pênis e a representação social que o exalta não cessa de existir no “sentimento de ser mulher”. Tomar a palavra, tomar o lugar, estes seus objetivos.

Crianças são estimuladas a um travestimento, a partir de estereótipos mais ordinários, como gostar de boneca, de rosa, de representações femininas como a Mulher Maravilha o que se constata nas redes sociais.

O feminismo está sendo destroçado mais uma vez pela falsa noção de “inclusão”, os homens são aceitos nas competições femininas e louvados se ganham o primeiro lugar. Primeiro as mulheres foram banidas dos eventos esportivos, agora o são novamente pelos “trans que se sentem mulheres”. Em tempo, a Federação Internacional de Atletismo tomou providencias para excluir os trans das competições esportivas a partir de 31 de março 2023.

O patriarcado tem reagido incluindo os homens em todos os setores sociais, desfazendo o feminino enquanto classe social, enquanto ponta de lança contra sua pregnância. Apenas um exemplo: um travesti foi nomeado a “mulher do ano” recebendo o prêmio Geração Glamour 2022, em São Paulo. Assim, não existem mais mulheres, apenas os homens. O feminismo acabou? as mulheres foram banidas pelos transativismo, que não tem a mínima noção teórica sobre a necessária mudança que se desligue do sexo socail.

E o transativismo passa a liderar o debate, com a violência masculina habitual sempre e sobre o sexo. Reivindicam lugares, corpos, reforçam estereótipos, forçam a aceitação como “pessoas com pênis”, o que lhes permite a intrusão em todo lugar.

E o feminismo perde seu rumo, seus esteios, numa “democratização” que descaracteriza a luta pela abolição do sexo social, o fim dos papéis sociais fixados no sexo, pois a ênfase é dada à identidade e está ancorada ainda na divisão binária, com pênis ou com vulva.

Isto não significa a desconstrução dos gêneros, pois o mote transativista é se afirmar “ mulher” forçando a aceitação do pênis nesta categoria. A classe das mulheres, como tal classificadas pelo feminismo na luta contra o patriarcado, dá lugar à uma massa indistinta que, porém, acena com identidades fictícias e rebaixa as mulheres a seus órgãos genitais.

Em nenhum momento vemos os transativistas recusarem o patriarcado ou contra este sistema se rebelarem. Sua luta, de fato, é contra as mulheres, acenando com seus pênis para melhor continuar a dominação patriarcal.

O feminismo acabou?

As feministas radicais estão aí, em presença e ação para impedir a reconstrução sem fim do patriarcado sob novas roupagens, abrigado sob saias e trejeitos.

 

 

 

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